Precariedade :: Testemunhos dos Professores do Ensino Politécnico

Algumas notícias que vão sendo publicadas ajudam a perceber as greves no Ensino Politécnico em que os professores exigem o regresso do Governo às negociações, por forma a chegar a um Estatuto mais justo. Contestam em particular o regime de transição das carreiras, porque não protege a situação de muitos docentes que, depois de sujeitos a uma situação de precariedade obrigatória há vários anos, não têm agora nenhumas garantias de assegurar a integração nos quadros e temem o mesmo o desemprego.

Não é possível continuar a usar os professores do ensino politécnico em contratos renovados sucessivamente por períodos de dois ou três anos e ao fim de 15, 20 anos, e nalguns casos mais, a submeterem-se a concurso público internacional, o que não acontece em mais nenhuma classe profissional portuguesa”, criticou Jorge Almeida, professor do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC).

Professora há 17 anos no ISEC, com contratos sucessivos há 11 anos, Margarida Silva considera lamentável que o ministro Mariano Gago tenha dito que a contestação ao estatuto “era atraso cultural“.

“É lamentável que uma pessoa que aprovou os estatutos da forma tão pouco transparente, sem dialogar com os professores, ainda nos diga que é atraso cultural”, afirmou a docente de engenharia civil, recordando “que o primeiro-ministro saiu da nossa escola, onde temos muito bons exemplos a nível nacional”.

O professor Álvaro Santos, com 15 anos de serviço no ISEC, lamentou à Lusa que “estejam a ser tratados como docentes de segunda, num ensino de segunda, quando na realidade os nossos alunos são sempre bem-vindos quando chegam ao mercado de trabalho”.

Segundo o docente, “após 15 anos de serviço, sou descartável, embora tenha entrado com concurso público, tenha visto os meus contratos renovados de dois em dois anos, continuo numa situação muito precária“.

O projecto de estatuto foi enviado pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior para a Presidência da República para promulgação”, na quinta-feira à tarde, depois de ter sido aprovado pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, órgão em que os professores em greve não se revêem.”

Entretanto, o ministro Mariano Gago falou diz que não compreende o medo que os professores têm de ir a concurso e lamenta a forma como os estudantes estão a ser prejudicados. “Não é concebível sequer imaginar que um bom professor, com provas dadas, possa ter receio de um concurso na sua própria instituição, isento e transparente, em que a experiência anterior é obrigatoriamente valorizada, como o novo Estatuto expressamente prevê, agora que, pela primeira vez, será posto a concurso um número extremamente alargado de lugares permanentes, de carreira”, afirma o ministro.”

Se o Ministro do Ensino Superior não percebe porque razão é que alguém (precário) que vê a sua vida incerta de dois em dois anos, ou de três em três anos, não quer ir, passados 15 ou 20 anos, a concurso internacional para ter o lugar no quadro a que tem direito, então Mariano Gago merece uma negativa baixinha.

Ver aqui, aqui e aqui o post anterior neste blog

Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather