“Precário do Estado a recibos verdes desde 1988” | Testemunhos
Recebemos este testemunho de um precário do Estado que aqui partilhamos na íntegra:
«Quero deixar o meu testemunho, já não é revolta, nem ódio nem sequer asco o que sinto por este país, é tão somente resignação, estou cansado.
Precário sou-o desde sempre,desde 1988, na última década então foi excelente, neste momento trabalho numa marquise, prestador de serviços, sem contrato sequer. Tenho horário de trabalho, dependência hierárquica de um município e do IEFP.
Sou monitor num Gabinete de Inserção Profissional, pago a recibo verde, depois de descontar tudo o que há para descontar recebo uns 417 Euros por mês.
Tenho 48 anos, licenciatura, pós-graduação, mestrado, curso profissional, CAP/CCP, falo e escrevo 5 línguas, enfim tudo aquilo que ao longo destes últimos 40 anos os nossos governantes foram exigindo. No entanto, aqui estou, há 5 anos a trabalhar para aquecer porque com a minha idade ninguém me quer para nada.
Acreditar, já nem em mim, em políticos há muitas décadas que não acredito, desencantado, desiludido sobretudo cansado, tão cansado que o cansaço já dói, sou amputado do membro superior esquerdo o que ainda dificulta mais o acesso a trabalho, mas à luz da lei também não sou deficiente que chegue.
“Ecce precario” seguramente haverá piores casos que o meu, a minha simpatia e compreensão está com eles, só quis partilhar a minha história, para memória futura.»
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