Precários fazem trabalho sujo nas centrais nucleares

Na cadeira de Economia do Trabalho do meu curso de Economia e Políticas Públicas o professor explicava há dias que a “sua” Escola de Economia defendia que não fazia sentido o Estado definir regras de segurança como o uso de capacetes, coletes ou equipamento especial, visto que, desde que exista informação sobre o trabalho que vai ser feito, o trabalhador assumiria o risco e seria recompensado por ele. Assim, esta corrente defende que a utilidade do trabalhador diminui e que a eficiência de pareto também diminui pela intervenção paternalista do Estado.
É pena que esta ideia peregrina esbarre com a realidade e a notícia que o Precário Inflexível João Romão nos enviou é bem exemplo disso.

As centrais atómicas francesas recorrem agora a trabalhadores precários, sem residência fixa, para realizarem as tarefas mais arriscadas e mais expostas às radiações, são os “Jumpers” ou “nómadas do reactor”, porque mergulham dentro do reactor.
Talvez indo ao encontro das preocupações da Escola do meu professor a doutrina de “risco zero”, que impedia que os trabalhadores fossem sujeitos a radiação, agora as empresas que gerem as centrais nucleares implementaram o ALARA (As Low As Reasonably Acceptable, tão baixo quanto possível).
Segundo o post que o João nos enviou, os “nómadas nucleares”, cientes do perigo a que foram expostos, apresentaram queixa contra a as empresas que os contratam, mas a queixa foi arquivada porque, no domínio nuclear, os acidentes de trabalho só podem ser tidas em conta passados 10 anos, pois é o tempo de incubar a doença e ocultar as causas que a provocaram.
E cá está, como é óbvio nem estes trabalhadores têm toda a informação, nem a empresa está disposta a pagar mais pelo trabalho de risco como dizia o meu professor. Aliás, o que a empresa faz, e todas as empresas o farão, é tentar ultrapassar os constrangimentos legais e a força dos trabalhadores daquelas fábricas indo contratar precários para realizar essas tarefas que são perigosas e muito onerosas.
O Capital, quando lhe cheira a lucro, perde toda a humanidade… lembro-me de alguém dizer.
Ricardo Santana
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