Precários Inflexíveis na Greve Geral em Viseu
Em Viseu, os Precários Inflexíveis estiveram na concentração da CGTP, às 11h30 em frente à Câmara Municipal. A concentração contou com a presença de cerca de 50 pessoas e os membros da CGTP vestidos com coletes de piquete atraíram a atenção de muitos transeuntes. Os Precários falaram com João Serra, coordenador da União de Sindicatos de Viseu, na tentativa de captar o retrato da Greve Geral no distrito de Viseu.
Com grandes empresas como a Martifer, que conta com 4500 trabalhadores, e a Visabeira, que oficialmente tem aqui cerca de 2000, Viseu é um distrito em que a precariedade se faz sentir, e com ela o medo generalizado que obriga as cabeças a baixarem-se na tentativa de passar despercebido e manter o emprego. As próprias autarquias são grandes empregadoras de recibos verdes e de contratos de muito curta duração, contratando frequentemente pessoas sem cargos definidos, que trabalham como jardineiros, varredores, etc., sem qualquer tipo de segurança no futuro. As empresas, por seu lado, fazem pressão para que os trabalhadores assinem cartas dizendo que nada lhes é devido no fim de um contrato, inviabilizando frequentemente a própria possibilidade de recorrer à ajuda do subsídio de desemprego. E o aumento da emigração é cada vez mais notório, chegando mesmo a haver autocarros que diária ou semanalmente transportam pessoas para trabalharem de forma não declarada em Espanha, muitas vezes sujeitos a condições indignas, sem descontarem nem no nosso país nem no vizinho, contribuindo assim não só para a deterioração das condições de vida das famílias do interior, como da própria situação do país.
Os piquetes têm sido até agora um sucesso e vão continuar ao longo do dia. Nos piquetes desta noite, alguns tendo contado com 30 pessoas, tudo se passou sem conflitos, como é tradição na zona e graças também ao trabalho preparatório dos sindicalistas, que contactaram previamente com autoridades e trabalhadores. Nesses contactos, João Serra contou-nos que se tornou patente o receio de muitos em aderir à greve, devido em parte à forte pressão dos patrões nesse sentido, em parte à informação dos meios de comunicação, que, na opinião deste líder sindical, serviu mais como efeito dissuasor do que convocatório. Ele lamenta que as pessoas continuem a só pensar no agora, no imediato, não tomando em conta o futuro, atribuindo isto à mensagem que lhes é transmitida diariamente ser de desespero e de que mais vale garantir o hoje porque amanhã não se sabe se haverá emprego.
O facto de muitos trabalhadores serem precários prejudica muito a possibilidade de se equacionar o futuro. Na PSA Peugeut Citröen de Mangualde, por exemplo, 1/3 dos trabalhadores são precários. Mas aí, como noutras empresas e instituições, as pessoas já começam a dizer basta e a organizarem-se na luta pelos seus direitos. A PSA tem vindo a registar aumentos na produção numa semana, apenas para na seguinte invocar a sua quebra como justificação para despedimentos, situação transparente e flagrante para as pessoas da região. Com final definitivo dos contratos previsto para 28 de Março, estes cidadãos sentiram mais do que nunca a pressão de fazer a sua voz ser ouvida. Muitos trabalhadores juntaram-se aos piquetes, e a adesão à greve rondou os 45% nesta empresa, sinal claro do descontentamento.
A União de Sindicatos de Viseu manteve ao longo do trabalho de preparação para a greve e no contacto com as populações uma mensagem de optimismo, tentando mostrar que um outro rumo é possível. João Serra diz que é visível a necessidade que cada vez mais jovens sentem em se organizarem e lutarem pelos seus direitos, e deixa o apelo a que essa organização passe também pela filiação nos sindicatos, que para além de darem apoio jurídico aos sócios, lutam pela melhoria as condições de vida actuais e garantir os direitos das gerações futuras.
Viseu não fica por aqui. Vai haver uma acção no Rossio a marcar o dia Nacional da Juventude, a 28 de Março, e no dia 31 deste mês jovens viseenses estarão presentes na capital na manifestação da Interjovem pelo combate ao desemprego juvenil e à precariedade que tanto aflige a nossa geração. Um autocarro da União de Sindicatos de Viseu transportará gratuitamente todos os que se quiserem juntar à luta no dia 31 de Março. Podem-se inscrever no dia 28 no Rossio ou através do Afonso, pelo telefone 961106366.
E como se ouviu hoje em Viseu, “a luta continua”, mesmo no interior!