Qimonda despede 590 trabalhadores :: Estado fica a ver? Será cúmplice?

A Qimonda, empresa-fetiche do Governo, prepara-se para demitir 590 trabalhadores (trabalhadores que se encontram em lay-off), muito embora nos últimos meses tenha afirmado que apenas pretendia despedir 230 pessoas.

Em Julho, admitia-se que os 1000 trabalhadores que se mantinham na empresa teriam a continuidade assegurada. Já em Setembro, a empresa anunciou que iria ficar apenas com 770 trabalhadores, que seriam os necessários quando se entrasse em velocidade de cruzeiro. Hoje preparam-se para ficar com menos de 500 postos de trabalho.

O mais grave desta situação é que os grandes responsáveis são o Estado, o BCP e o BES, dois dos maiores bancos nacionais. Serão os principais accionistas da empresa, dado que são também neste momento os principais credores. O que quer dizer que o Estado e o capital (Banca) estão mais uma vez de mão dada a tentar livrar-se de trabalhadores não havendo qualquer compromisso de responsabilidade social para manter os trabalhadores.

Utilizando a situação de fragilidade dos trabalhadores e a incapacidade da economia, das empresas e do Estado Português em criar emprego que valoriza o conhecimento, o Estado, conjuntamente com os bancos BES e BCP, estão a manobrar para reduzir custos de trabalho e utilizam uma estratégia muito pouco clara relativamente ao futuro dos postos de trabalho.

  • Diz-se que existe a possibilidade da ser dada preferência à futura (re)contratação dos trabalhadores que serão despedidos nos próximos dias, mas, será que as condições serão as mesmas ou perderão direitos obtidos com o trabalho e experiência anteriores?
  • Porque motivo, mais uma vez, são os trabalhadores que estão a pagar a incapacidade da administração de uma empresa?
  • Porque motivo não são o Estado e os dois grandes bancos, BES e BCP, a suportar boa parte dos custos sociais dos problemas na Qimonda, visto que são também actores com muito maior responsabilidade e capacidade de intervenção nas decisões estratégicas de política e economia no país?
  • Será que o impacto da manutenção dos 1000 postos de trabalho na Qimonda são um preço que o Estado, o BES e o BCP não podem pagar a bem da responsabilidade e estabilidade social?

O maior activo da Qimonda são os trabalhadores e trabalhadoras altamente qualificados que lá trabalham. Num sector tão competitivo é certo que estes profissionais são o centro da capacidade produtiva da Qimonda e que nenhuma solução será viável sem eles.

Assim se prova o castelo de cartas em que consiste o Choque Tecnológico e a enorme falta de apetência das empresas pela tecnologia e conhecimento. Sublinha-se nestes dias a impreparação e incapacidade da gestão das empresas em Portugal. A atracção pelo modelo de baixos salários e poucos direitos contrasta com o a valorização da ciência, da formação e do conhecimento. Esse é o problema do trabalho em Portugal.

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