Queremos a nossa vida de volta!
Ontem à noite, várias dezenas de pessoas encheram o bar do Teatro A Barraca, para assistir e participar na proposta de debate que o PI organizou. “Vemo-nos gregos – Queremos a nossa vida de volta?” era o mote para este encontro de pessoas, ideias e vontades. Queríamos olhar para a revolta grega, aprender com ela e aproveitar para pensar as urgentes respostas que precisamos para o nosso quotidiano de combate à precariedade no trabalho e na vida.
João Romão (economista e activista do PI), José Soeiro (sociólogo e recentemente chegado da Grécia), Rui Tavares (historiador e opinador frequente nos media) e Carvalho da Silva (secretário-geral da CGTP): uma mesa com contributos importantes, para arrancar um debate que foi também um ponto de encontro que entusiasmou quem nele esteve.
A conversa foi longa, mas nem demos pelo tempo passar. Ainda vimos um filme que José Soeiro nos trouxe da Grécia – denúncias, mobilizações e formas de organização que nos ajudam a pensar. Depois, até à uma da manhã, falámos das nossas urgências e preocupações. A degradação do valor do trabalho, a intensificação da exploração, a imposição da precariedade – aliás, das precariedades. Mas também a organização e as respostas, sem certezas absolutas, com vontade de as descobrir no encontro das lutas – sim, das lutas, porque elas existem, na Grécia, em Portugal e em todo o lado.
João Romão falou sobre o contexto das alterações nas relações laborais e de como elas afectam particularmente a “geração precária”, num contexto de degradação dos serviços públicos e do Estado-Providência. Vindo da Grécia, José Soeiro trouxe-nos a experiência do que lá viu, o entusiasmo daquela mobilização e as suas formas de organização e o que, infelizmente, não vemos nos jornais ou na televisão. Já Rui Tavares relembrou outras expressões de revolta juvenil, como os acontecimentos dos subúrbios de Paris, e centrou a sua intervenção na crise, na liberdade e nas relações entre Estado, mercado e pessoas. Carvalho da Silva contribuiu com várias reflexões sobre as características da ofensiva actual sobre os trabalhadores e trabalhadoras, mas apontou também pistas importantes para as respostas: defendendo o lugar central do trabalho e a importância do sindicalismo, sublinhou a importância da organização “onde estão as pessoas e nas suas condições”, num diálogo e numa aprendizagem que terão que ser intensificados.
Foi, portanto, um debate muito interessante, rico nos conteúdos e na participação. Saímos dele com energias redobradas e com a responsabilidade de continuar a encontrar caminhos que rompam o isolamento e o medo, que abram a comunicação entre pessoas e sectores, que acrescentem força, ideias e organização à luta contra a exploração e a precariedade.
Queremos a nossa vida de volta, sim senhor! E estamos a fazer por isso. Com a precariedade, querem-nos isolados e isoladas e aumentar o saque às nossas vidas. Responder-lhe precisa de todos os contributos e todos os encontros. Ontem à noite ficámos menos longe disso.
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