Reestruturação da dívida Grega em 50%: luta social e mudanças no plano político
Enquanto em Portugal, PSD e PS, Governo e principal partido da oposição, juram a pés juntos que Portugal não deve e não tem de renegociar a dívida, a Grécia, que percorre apenas um passo à frente uma estrada comum a ambos os países, enfrenta já a reestruturação da sua dívida soberana. Já sabemos que o que Passos Coelho diz não tem validade, e que o que não diz é que pretende destruir a economia do país como a conhecemos para o transformar numa colónia de trabalho para grandes grupos económicos e banca. No entanto, a reestruturação da dívida soberana grega merece algumas considerações que rapidamente se poderão aplicar também a Portugal.
– Os planos de austeridade destroem as economias dos países. São instrumentos para obter lucro fácil e imediato. Não são “resgates” mas sim “sequestros”, que retiram da posse pública e dos cidadãos, as riquezas dos países, o produto e os serviços públicos, tudo em direcção aos bolsos do sector privado. Apesar de ter sido a falta de regras e a impunidade do sector bancário e financeiro a criar buracos económicos tremendos, foi o mesmo sector que organizou até agora a sua salvação através da imposição de uma nova ordem social nos países mais fracos. Mas mesmo com base nos dinheiros públicos e no controlo dos governos de fanáticos da Europa, é já quase do consenso público que é simplesmente impossível pagar as exorbitâncias exigidas em juros pela própria banca. Esse, não é também nenhum segredo. Segredo talvez seja que a chantagem em que consistem os planos de “ajuda” impagáveis, é o instrumento político para abrir caminho para a destruição dos direitos no trabalho e dos serviços públicos, que são entregues em benefício e gestão ao sector privado.
– Por outro lado, a antecipação da reestruturação da dívida grega, com base na reestruturação de 50% do seu valor, era recusada por todo o sector dos políticos de poder. E é ainda hoje recusada em Portugal pelos banqueiros agiotas que nos roubam e detêm aquilo que chamam de “activos sem risco”, ou seja, lucros garantidos através de empréstimos especulativos aos Governos que controlam. Os líderes da Europa fizeram-no para salvar o Euro e a banca europeia e não para proteger a população Grega e os cidadãos da Europa. Mas agora fica claro que se deve insistir na recusa do pagamento destas dívidas, visto que o que era “impossível” se tornou obrigatório. É sempre assim com as “inevitabilidades”.
– Não estando ainda afectada a relação de força política entre capital e trabalho, entre povo e Governos-Banca, a resposta dos governos e dos banqueiros foi a tentativa fundamental de obrigar a que os Estados mais pobres (os PIGS) introduzam nas suas Constituições o limite ao endividamento. Com as alterações políticas que uma grande amplitude de movimento social e do trabalho pode implicar na Grécia, os Governos e Banca pretendem desde já impôr o sub-desenvolvimento a estes países, e portanto convertê-los, de facto e de forma permanente, a um estado colonial com direcção no directório da banca Alemã e Francesa (com o capital financeiro e da banca dos restantes países atrelados ao mesmo projecto político).
Conclusões sumárias e prévias:
– Não aceitamos que esse limite ao desenvolvimento seja imposto em Portugal através da imposição de mudanças à Constituição de 1974. Porque não aceitamos ser trabalhadores explorados ou colónia de trabalho e mão-de-obra qualificada.
– Não aceitamos que uma possível renegociação da dívida dos países seja feita sem que se tirem as conclusões devidas sobre o falhanço grotesco dos supostos “planos de ajuda financeira”. Ou seja, a renegociação tem de implicar um reequilíbrio da economia: restituição dos direitos e salários subtraídos ao abrigo de planos de austeridade que se verificaram impagáveis, irrealizáveis e por isso injustos.
– O pagamento de qualquer parcela da dívida deve ser precedida de uma auditoria detalhada, realizada pelos vários sectores sociais, e deverá ser elaborado um novo plano de ajustamento que corrija o desequilíbrio e desigualdades nos países e inverta as proporções no pagamento da dívida. Forçando quem tem mais capacidade de aguentar o impacto económico, a banca, o sector financeiro e os grupos económicos, a pagar a maior parte da dívida.
– Utilizando os lucros obtidos em anos de crise (ex: Jerónimo Martins, EDP…) na manutenção do emprego será possível reconstruir uma economia que funciona para a manutenção e desenvolvimento do país com direitos no trabalho e serviços públicos. São esses os eixos que asseguram a maior estabilidade em momentos de ataque financeiro e especulativo.
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