Relatos da insurreição turca (4): Foi como uma verdadeira guerra
A activista turca Zeynep continua a enviar-nos notícias sobre a revolta em curso no país e a pedir-nos ajuda para difundir a luta que está nas ruas. Partilhamos o seu relato sobre a passada noite de 2ª para 3ª feira, quando a polícia voltou a atacar brutalmente, com violência renovada, os manifestantes. Entretanto, Erdogan está agora a tentar iludir a opinião pública turca e internacional, simulando conversações com grupos de representantes dos manifestantes que não são reconhecidos pelos próprios manifestantes, acenando agora com um suposto referendo à construção do centro comercial na Praça Taksim e no parque Gezi. Mas a luta nas ruas de Istambul e da Turquia não cessa, é muito mais ampla e vai continuar, apesar das ameaças e do terror da repressão.
«Olá,
Ontem à noite, quando a polícia atacou com gás lacrimogéneo a partir de ambos os lados da praça, não conseguimos escapar. Não conseguimos respirar durante algum tempo. Eu estava com 4 amigos, que me ajudaram a fugir. Agora estou melhor. Mas não posso dizer que esteja psicologicamente bem. Depois de um dia inteiro com gás e bombas da polícia de 5 em 5 minutos, tantas gravemente feridas, tanto sangue, tantas pessoas afectadas, eu não estou bem.
Um rapaz que estava perto de mim foi atingido no braço e outro no estômago por uma cápsula do gás lacrimogéneo. Uma amiga meu ajudou a assistir e a evacuar essas pessoas e está agora traumatizada.
Ontem atacaram uma pessoa de cadeira de rodas.
Foi como uma verdadeira guerra. Não tenho palavras para explicar esta situação. Eles vieram a Gezi para nos matar, apontaram-nos directamente as suas armas de gás lacrimogéneo, usaram bombas e atiraram directamente sobre as pessoas na cabeça e no peito, com balas de borracha. Agora tememos que comecem a usar balas reais, de metal, muito em breve.
Apesar do sentimento de desespero, somos muitos a lutar e acreditamos que estamos certos. Estamos no parque Gezi e continuamos a resistir.
Precisamos do vosso apoio. Precisamos que nos ajudem a divulgar o que se passa aqui. Os meios de comunicação mais importantes da Turquia não divulgam a realidade. Eles difundem a realidade a partir do ponto do vista da polícia e participam conjuntamente nas provocações.
Obrigado pelo vosso apoio, amigos do PI. Muitos beijos,
Zeynep»






