Reportagem | Vítimas da moda?

No mês em que se assinala, um ano depois, a tragédia do desastre que vitimou mais de 1100 trabalhadores de uma fábrica têxtil no Bangladesh divulgamos uma reportagem sobre as condições de trabalho no Cambodja. O documentário pode ser visto aqui
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 O jornalista, autor desta reportagem, não consegue em nenhum momento entrar dentro de uma fábrica, mas as entrevistas a trabalhadoras e a visualização das condições em que vivem são suficientes para perceber as condições de trabalho destas pessoas. Transportadas em carrinhas sem quaisquer condições e segurança, trabalhando horas extraordinárias para poderem receber um pouco mais, relatos de casos de desmaios por demasiado trabalho e falta de nutrição e os impactos na saúde destes trabalhadores e trabalhadores por estarem em permanente contacto com substâncias químicas, são algumas das condições em que vivem estas pessoas. Isto para não falar nas pequeníssimas casas onde pernoitam.

Do outro lado está o representante das empresas que têm as suas fábricas instaladas no país e que recusa qualquer filmagem dentro dos edifícios. Um dos argumentos utilizados para esta recusa é o de que numa reportagem anterior uma das empresas teve um prejuízo de milhões de euros, por isso, e para prevenir este tipo de represálias, acordaram em não permitir mais filmagens. Mas toda esta declaração acaba por revelar o que se passa dentro das fábricas, caso contrário abririam as suas portas. O mesmo representante não tem qualquer pejo em afirmar que as empresas não estão ali para ajudar ninguém, estão apenas para fazer lucro e se as pessoas não gostarem podem mudar de país imediatamente.

Esta realidade que se multiplica por todo o mundo é o padrão da precariedade a alastrar sem qualquer travão, num mundo onde a competitividade e o lucro falam mais alto que os direitos básicos e a dignidade das pessoas. A tragédia do Bangladesh foi um grito destas pessoas e façamos a homenagem devida às vítimas, mas é necessário continuar a expor o que se passa nestes países transformados em fábricas de produtos e demolidores de direitos.

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