Ricardo Salgado: Um programa político para os 1%

Desde 4ª feira da semana passada que Ricardo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo, maior banco português, vem informando a comunicação social sobre a continuação do programa político dos 1%: aceitar sem hesitações o orçamento de estado para 2013, continuar a pagar dívida sem sequer renegociar os juros e descapitalizar a Segurança Social deslocando toda a poupança para os planos de pensões privados. Tudo isto enquanto informa que o futuro da banca nacional, em particular do BES, terá como destino o estrangeiro. Uma política terceiro-mundista para um país que os 1% querem na marcha acelerada para o subdesenvolvimento.

Tal como nos dias prévios à chamada da intervenção externa por FMI, BCE e UE, os últimos dias têm sido de forte intervenção da banca em relação à política nacional. Na primeira semana de Abril, imediatamente antes do pedido de “ajuda” externa executado pelo então primeiro-ministro José Sócrates, Ricardo Salgado (BES), Fernando Ulrich (BPI), Faria de Oliveira (CGD) e Nuno Amado (Santander Totta) fizeram um desfile pelos telejornais da noite em dias sucessivos, concluindo unanimemente a necessidade de um resgate financeiro. E apesar de dizerem na altura que o resgate se destinava não à banca mas às finanças públicas, para combater dívida e défice, durante essa mesma semana o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, António de Sousa, afirmava no entanto que “Os Bancos já não têm mais dinheiro“. Meses antes Ricardo Salgado defendia que não se reproduzissem em Portugal as más experiências da Grécia e da Irlanda, rejeitando um resgate. Mas, como se costuma dizer, ‘money makes the world go round‘. E hoje, mais de um ano e meio depois da implementação do memorando da troika, estando o país numa situação bastante semelhante, senão pior, à Grécia ou Irlanda da altura, Ricardo Salgado louva Vítor Gaspar e beneficia-se com as privatizações do acordo. E continua também a procura dos seus negócios em outras paragens.

Na sequência da notícia da semana passada de uma renegociação do pagamento dos juros da dívida pública grega, Ricardo Salgado veio dar o mote e informar os “decisores” sobre qual o programa político dos 1%: a dívida não deve ser renegociada; os juros não devem ser baixados. Sabemos bem da chantagem que governos como o de Samaras na Grécia ou o de Passos Coelho em Portugal impõe sobre os seus povos. Chantageiam com o medo da sua impotência e, mais que impotência, com a sua vontade manifesta de manter condições draconianas na imposição de políticas anti-sociais utilizando para tal a justificação dos juros elevados, que é necessário pagar sem contestar. Ricardo Salgado dá o mote: há que manter esta justificação para poder continuar a impor a austeridade.

Apoiando o plano posto em marcha pelo Governo de privatizar a Segurança Social, Ricardo Salgado solicitou aumento de benefícios fiscais aos Planos Poupança Reforma, que substituiriam as pensões complementando o pedido de Mira Amaral, presidente o banco angolano BIC, que diz que “As novas gerações deviam deixar de descontar para a Segurança Social”. A coerência no discurso só colide com o facto da descapitalização da Segurança Social estar a ocorrer não por causa da pirâmide etária, mas pelo aumento da precariedade, pela falta de pagamento generalizada dos empregadores e pelas perdas de capitais da segurança social jogados na bolsa. À grande pergunta sobre o porquê de tanto interesse em destruir a Segurança Social, a primeira resposta é ideológica: para destruir a política da solidariedade intergeracional dos trabalhadores e trabalhadoras, que permita transmitir segurança a quem a precisa; a segunda é imediatista, e de resultados conhecidos: para poder sem quaisquer restrições jogar os fundos de pensões na bolsa, uma reserva gigante de capital para apostar. A própria lógica deste tipo de gestão nos fundos da Segurança Social levou à perda recente de 1,5 mil milhões de euros. Assim fica de facto é difícil a sustentabilidade.

Sobre a constitucionalidade do novo Orçamento de Estado, questionada por todos excepto a maioria do governo e a banca, Ricardo Salgado acrescenta informação: “Tudo o que seja lançar dúvidas sobre o Orçamento não vai facilitar a nossa vida em relação ao aspeto que os preocupa a todos e a nós também, o mercado“. A ordem de prioridades estava há muito esclarecida, mas o banqueiro deixou novamente clara a sua posição. Esta declarações de Ricardo Salgado foram prestadas na cerimónia dos prémios Exame Banca & Seguros, no qual o seu banco foi distinguido como Melhor Grande Banco, Grande Banco Mais Rentável e Banco que Mais Cresceu em 2011. Porque a austeridade é para todos.

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