Se Passos não exige "de mais" pode exigir mais?
Passos diz que vai vencer. (Foto: DN) |
Este discurso de Passos Coelho é importante e deve ser analisado em dois momentos: 1) O que é exigir “de mais”; 2) quem é o “nós” que irá vencer.
Sobre a primeira frase é fácil de ver que só um político sem norte é que acha o bom caminho são 1,3 milhões de desempregados e desempregadas, o facto de menos de metade dos desempregados terem subsídio de desemprego, o fecho diário de empresas e uma economia tão depauperada que apesar de se subir a taxa o IVA já não aumenta. Mais: se não está a “exigir de mais” Passos dá indicação que considera ainda a possibilidade de pedir mais.
A segunda frase é ardilosa, pois se bem que parece que Passos está a falar em nome do “país” tal não é verdade. Vejamos, em apenas 2 anos as pessoas que trabalham em Portugal vão perder 12% do seu rendimento e as alterações ao código do trabalho destruíram o princípio do despedimento por justa causa e cortaram 7 dias de descanso anuais, para além de baixarem o valor das horas extraordinárias e permitirem bancos de horas individuais. Assim, é impossível pensar que no final deste tratamento de choque de austeridade que Passos, Portas e a troika estão a infligir possamos pensar que “vamos vencer”. Se permitirmos que o Governo mantenha estas atrocidades, aumente o desemprego e destrua a proteção social nunca podemos dizer que “vencemos”, porque na verdade teremos perdido.
Mas para as grandes empresas os dias que os trabalhadores e as trabalhadoras passam a fazer de borla e a capacidade de despedir a-la-carte são muito importantes e esses sim poderão dizer que foi difícil o caminho (veja-se que os mais ricos de Portugal diminuíram a sua fortuna de acordo com a Exame deste mês e que ganhou o patrão do Pingo Doce), mas que venceram e que valeu a pena.
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