Sócrates na RTP: a “crise” continua, a propaganda também
A entrevista correu bem a Sócrates. Nada de novo, sabemos que nisso ele é bom. E até trouxe na manga umas medidas para nos compensar o “esforço” dos últimos anos. O mesmo Governo que, por exemplo, rebentou com o arrendamento jovem e convive pacificamente com os lucros monumentais dos banqueiros e gangs anexos e as suas fugas continuadas ao fisco, vem agora anunciar o aumento das deduções fiscais no crédito à habitação e a redução do Imposto Municipal sobre Imóveis. É assim que Sócrates nos garante que faz o que pode “sempre que há margem”.
A recente revisão do Código do Trabalho também mereceu uns minutos do tempo de antena. Não é surpreendente, mas Sócrates insistiu no falso equilíbrio do novo pacote da exploração laboral. Saudou o “acordo” e, sem surpresas, acusou quem não concordou. E voltou a dizer que o Governo conseguiu os seus dois principais objectivos: “mais flexibilidade para a economia e um novo combate à precariedade”. São as duas faces da mesma moeda, porque “flexibilidade” não quer dizer outra coisa senão despedimentos facilitados e horários e carga de trabalho ao sabor da vontade do patrão; e “um novo combate à precariedade” são os rebuçados com que se está a legalizar e legitimar a precariedade. Mas esta insistência dá-nos a pista que precisamos para ter os pés assentes na terra: Sócrates sabe que a precariedade toca quase toda a gente e ele também já não pode fugir-lhe. Sócrates sabe bem que tem que falar para estes milhões. Milhões de pessoas que valem milhões a meia dúzia.
Tiago Gillot
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