Sonaecom: lucros recorde e reduções de salários no país da loucura do capital

Chamar liberdade à possibilidade de acumulação de capital em grupos económicos numa economia como a nacional é pouco. Donos ou accionistas acumulam milhões de euros de lucros em empresas como a Sonaecom (da família Azevedo, Belmiro e Paulo, na foto), e mesmo assim, realizam à luz do dia e sob o olhar benevolente da já provavelmente irrecuperável justiça portuguesa, reduções salariais e submissão para a Segurança Social da responsabilidade de pagamento de 2/3 dos salários dos trabalhadores em lay-off (cujo salário fica reduzido a 70%). Desta vez são mais de 20 trabalhadores num período de 6 meses a um 1 ano que ficarão em lay-off, para além dos que verão novamente os salários reduzidos. Esta será a segunda redução salarial em trabalhadores do Público em dois anos, coincidindo com dois anos de aumentos de lucros do grupo que detem o jornal, a Sonaecom. Em 2010 os lucros da Sonaecom ultrapassaram todas as metas anteriores, 41,2 milhões de euros. Em 2011, nos primeiros nove meses do ano, o mesmo grupo apresentou lucros de 57,1 milhões de euros.

O argumento de que o Público gera um resultado negativo de 2,7 milhões de euros é fraco, pois o mesmo grupo económico gera dezenas de milhões de euros de lucros a cada ano. Levada um pouco mais adiante, esta lógica permitirá que dentro de uma empresa se reduzam salários ou se coloquem em lay-off os trabalhadores de uma secção ou área de uma empresa que tenha menores resultados ou menos negócio num qualquer ano. É a estrutura social e económia que fica sujeita ao medo e chantagem permanente e é uma óptima forma de controlar trabalhadores para que não sejam colocados em áreas das empresas onde o risco de desemprego ou redução de salário seja evidente. É uma óptima forma de aplicar a todas as empresas e a toda a economia a regra ultra-liberal de que as reduções de salários e o lay-off podem chegar com um mau ano de trabalho. É uma óptima forma de tornar démodé o “emprateleiramento” de trabalhadores, perante a possibilidade de redução salarial agressiva e lay-off. É uma óptima forma de afastar os trabalhadores da reivindicação dos seus direitos e também de isolar ou afastar, através do medo, os trabalhadores, precários ou não, das suas estruturas de representação. É uma óptima forma de dizer “Cuidadinho com o que se diz, cuidadinho com o que se faz…”
Mas na notícia sobre as novas reduções de salários do Público não se fala de precários, que os há. Com esses a administração negociará como se negoceia sempre com precários: dedo no ar, apontando o seu destino de forma autoritária e sem hipóteses de defesa ou negocição para o trabalhador. A chantagem, o isolamento e falta de direitos dos trabalhadores precários, a falsos recibos verdes ou a prazo, resolve sempre os problemas das administrações que procuram um instrumento para aumentar as margens de lucros, ou “ajustar a empresa ao ciclo da economia” como preferem dizer.
Os sucessivos governos têm fornecido instrumentos legais como o lay-off, precariedade legalizada, impunidade generalizada a quem gere o país. Os tribunais e as instituições que deviam aplicar a lei do trabalho, mesmo quando fraca, ficam mal na fotografia, pois são inúteis e inexistentes do ponto de vista social para milhões de pessoas. E se uma sociedade não compreende que sem justiça e liberdade no trabalho, não há justiça e liberdade nas ruas ou nas casas, também não compreende que não haverá paz social quando a imposição da agressividade e do conflito é feito através do governo e das maiores empresas nacionais.
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