Suicídios na France Télécom – Até quando?


A vaga de suicídios na France Télécom está a tomar proporções assustadoras. Subiu ontem para 24 o número de trabalhadores da telefónica francesa a pôr termo à vida. Desta vez, foi um trabalhador de 51 anos, pai de dois filhos, que se atirou de um viaduto, tendo deixado uma carta que coloca sérias questões em relação às condições de trabalho na empresa. À semelhança dos casos anteriores, também este funcionário fora recentemente deslocado.Pela primeira vez desde que se iniciou a vaga de suicídios, há 18 meses, Didier Lombard, o presidente da FT, dirigiu-se pessoalmente ao local de trabalho do funcionário, desta feita a delegação de Annecy-le-Vieux em Haute Savoie onde, segundo os trabalhadores, as condições são desumanas.

(imagem daqui)

Segundo Patrice Diochet, do sindicato CFTC, citado pelo Diário de Notícias, aquela delegação é “conhecida há muito tempo por ser insuportável, havia uma verdadeira indiferença, nenhum calor humano, não se falava senão de números, os empregados eram carne para canhão“.

Há apenas duas semanas, ao ser divulgado o 22º suicídio, do qual demos conta aqui, a France Telecom havia anunciado medidas urgentes, entre as quais a suspensão até 31 de Outubro das “mobilidades de pessoas afectadas pelos projectos de reorganização” para “reexaminar as condições para implementar essa medida”. Ontem, Dider Lombard, que foi vaiado à chegada a Annecy-le-Vieux, voltou a anunciar as mesmas medidas assim como “a suspensão imediata dos objectivos individuais neste local até serem melhoradas as condições materiais” (!)

O presidente da mortífera France Télecom afirmou estar “profundamente comovido” com o acontecimento que toca “toda a família Telecom”, referindo que a tragédia poderia ter sido evitada pois o trabalhador tinha consulta marcada para a medecina do trabalho no próprio dia. Tendo em conta que foi preciso morrerem mais dois trabalhadores até o bem-intencionado patrão da telefónica perceber que talvez fosse melhor implementar imediatamente aquilo que anunciara para um mês depois, a ver vamos se realmente as medidas são postas em prática, e ainda se foram pensados procedimentos retroactivos, já que são inúmeros os funcionários já atingidos por estas deslocalizações. Poderá o desespero dos trabalhadores esperar ou haverá mais baixas a lamentar nesta grande “família” – uma família bem disfuncional, diga-se -, que emprega, recorde-se, 100 mil funcionários?

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