"Temos homem!" :: Opinião
No mundo dos Yuppies conheço bastantes (e esclarecidos) jovens que consideram muito positivamente o José Gomes Ferreira. Ontem em mais uma boa intervenção este comentador-técnico disse o mesmo que o Gabriel Alves (conhecido comentador jornalista desportivo) disse há uns anos sobre um jogador do Benfica chamado Ailton… “Temos homem!”. O problema é que nem foram precisas 24h para o nosso Ailton Silva tropeçar outra vez na bola (desta vez, o PS). Mas José Gomes Ferreira não desarma, se a solução do Ailton não funciona, ele próprio avançou uma tática infalível para o país: “O melhor mesmo é pegar no melhor que o PS, PSD e CDS têm e meter essa gente a governar o país”. Mas diz outro comentador vizinho do lado “Mas então, não foram esses durante 20 anos que nos meteram nisto?!?” José Gomes Ferreira não é homem, nem técnico, de se ficar… respondeu logo “Pois, o melhor então é fazemos como em Itália e irmos buscar bons técnicos.”.
A imagem dos dois velhos marretas a comentar o teatro em que se tornou a democracia em Portugal é demasiado triste para ser verdade. O problema é que foram mesmo PS, PSD e CDS que nos trouxeram aqui, e foram mesmo estes comentadores, fazedores de opinião, estes padres sem batina que acalmaram as gentes e prometeram o céu e a redenção.
É cada vez mais difícil prever o que pode acontecer, sendo que passámos do jogo de poder dos grandes partidos para o salve-se quem puder dentro dos grupos e líderes de cada partido de poder. Aqueles que sempre se colocaram em pose de estado e acharam que podiam gerir o país de braço dado com o poder do capital vêem agora que se enganaram. O capital não quer nenhum braço dado com ninguém, e por isso, agora que tem força suficiente, segurou Passos e Portas pelos colarinhos, e agora os meninos bem penteados farão exactamente o que lhes mandarem.
As estruturas dos partidos do “arco de governabilidade”que se montaram durante 20 anos através de cunhas, de favores, de falta de rigor, de incompetência, de corrupção, de negócios escuros e financiamentos manhosos dos grupos económicos ligados à banca, ao retalho e à construção, dificilmente irão agora, de forma generosa, se libertar dos favores e facilidades na altura mais difícil da vida do país. Agora que as coisas estão difíceis é que as cunhas e os negociantes se vão juntar contra a pior chantagem e estrangulamento económico que poderemos conhecer (vinda obviamente, de quem nos “ajuda”)? Muito difícil.
Ficámos a saber que o Presidente acha que a democracia deve ficar suspensa, tal como PSD e CDS. As maiorias e maiorias absolutas de PSD, CDS e PS durante mais de vinte anos não lhes chegaram e agora dizem que Portugal tem um problema técnico e por isso querem fechar a porta, falar e decidir o que lhes apetecer sem ter ninguém a ver ou a incomodar. Como na Grécia, em breve, também haverá quem diga que as greves são mesmo um empecilho para o país e que até as organizações e as mobilizações contra as instituições públicas ou políticas são em si um entrave ao desenvolvimento do país. Haverá quem reescreva a história e diga que os direitos que existem são os que são possíveis e que nunca foram obtidos na intervenção social mas sim na concertação social. Haverá rapidamente quem diga tudo e tente fazer tudo o que até agora só lemos nos livros de história.
Rui Maia
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