"testemunho do que é um licenciado em busca do impossível" (enviado ao PI por e-mail)

“Licenciei-me em Direito no ano de 2005, convencida que uma licenciatura, que além de me ter dado gozo tirar, me iria trazer alguma vantagem na busca de emprego. Aliás em qualquer empresa precisam de um licenciado em Direito, mas pelos vistos qualquer administrativo com o 9º ano ou 12º ano faz o que um jurista faz e claro com um ordenado de não técnico.

Sempre fui trabalhadora-estudante, com um trabalho que até me dava gozo.
Assim que termino o curso começo a minha busca por trabalho, na minha área…. Tive a oportunidade de ingressar, como administrativa, numa escola. Estive lá cerca de 2 anos. Terminou o contrato e o quadro de trabalhadores que até ia ficar efectivo foi posto na rua, sem dó nem piedade.
A busca começa….
Tenho feito trabalhos sazonais, mas um trabalho que me dê estabilidade nada.

Chego a enviar cerca de 200 currículos por dia. Estou constantemente a ver sites de emprego, envio, reenvio e volto a enviar. As respostas são negativas (habilitações a mais) ou nem sequer mereço um “obrigado pela sua candidatura”.
O desespero é de tal forma que me inscrevo em trabalhos em que nem pedem as minhas qualificações. Ou seja, já qualquer coisa me serve.

Passo dias e dias no Centro de Emprego à espera de respostas que não tenho.
Aliás os Centros de Emprego são um ninho de pedantes que nem trabalhar sabem. Entra-se às 9h e se se sair às 14h horas temos que nos dar por sortudos. Passamos os dias à espera que as funcionárias falem ao telefone com os familiares e depois tratam-nos de forma insensível. Dizem, isto está mal, isto está mal, PORRA EU SEI ISSO, PRECISO É DE UMA PALAVRA DE CONFORTO, SEI LÁ!!!!
Nunca me enviaram nenhuma proposta de trabalho, nunca me enviaram possibilidade de fazer cursos, nunca recebi nada do centro de emprego a não ser as cartinhas para me poder apresentar de 15 em 15 dias (termo de identidade e residência….). Se ainda me arranjassem algum trabalho…

Enviei algumas candidaturas para que me fossem financiados alguns cursos de formação, mas não tenho direito aos respectivos financiamentos por ter qualificações a mais, ou então nem sequer obtenho resposta.
Todos os que tirei foram pagos do meu bolso e o retorno desse investimento é nulo.

Desde Outubro que não recebo nada da Segurança Social. Pedi a reactivação do Subsídio Subsequente ao Subsídio de Desemprego e até agora nada. Enviaram-me uma carta a dizer que precisava de pagar 155,22 por um recebimento feito em Dezembro…. Engraçadinhos.
Passei o dia lá para resolver o assunto, que segundo informação que tive na semana passada ficou por resolver.
Nem informação sobre a minha situação laboral tinham processada informaticamente.
O Simplex, é tão simples que não aparece no sistema informático. É tão simples de resolver que estou à espera desde Novembro.

Arrependo-me cada vez mais de me ter formado e de ter esse bichinho, não conseguindo deixa de melhorar a minha formação.
Gostava tanto de ser preguiçosa, sem vontade de fazer nada, para que tivesse a possibilidade de me ser financiada uma formação que me desse equivalência ao 9º ano ou 12º ano e depois arranjasse um trabalho. Era tão mais fácil.
Num país onde temos um Primeiro-ministro, que além de corrupto, nem supostamente habilitações académicas tem a não ser falsificando-as, não podemos exigir muito.

Para rematar, é altamente desesperante, acordar todos os dias, estar sempre em frente ao Computador em busca de um trabalho que não aparece, deitarmo-nos a pensar que no dia seguinte o dia vai ser igual e que nem sequer dinheiro para um café, ou para ir de férias temos. Sim, porque se há gente que verdadeiramente precisa de tirar férias, fazer uma pausa na busca de emprego é um desempregado.
Admiro-me como é que ainda não se deu o 25 de Abril de 2008, ou não está planeado um 25 de Abril de 2009.

Cumprimentos
Filipa”

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