Testemunho :: "Falsos" recibos verdes na HPP-Saúde (Caixa Geral de Depósitos)

Depois da denúncia do FERVE sobre a exploração a que estão sujeitos trabalhadores no British Hospital (da conhecida SLN por intermédio do Grupo Português de Saúde), o PI recebeu e divulga hoje um testemunho (protegida a identidade da pessoa) sobre a existência de vários trabalhadores a “falsos” recibos verdes no grupo HPP-Saúde, cujo accionista/dono é a Caixa Geral de Depósitos.
“Queria desde já agradecer o incentivo para relatar o meu testemunho de falso Recibo Verde. A denúncia dirigida ao British Hospital foi mote do comentário anónimo que teci, por razões óbvias, por isso gostaria de manter o anonimato.

Há uns tempos aceitei uma proposta de trabalho com condições fossem um tanto ou quanto precárias. Horário de trabalho na empresa, com material da empresa, hierarquia definida e chefia, mas falso Recibo Verde. Um valor global, do qual deveria tirar um valor para a Segurança Social, para o IRS e para o IVA.

A empresa era “séria” e como só tinha tido uma experiência de falso Recibo Verde com final feliz (ao fim de 6 meses fizeram-me contrato de trabalho), decidi aceitar e fazer alguns sacrifícios. A empresa “séria” integra o Grupo Caixa Geral de Depósitos e é responsável pela administração e gestão de diversos hospitais privados, de Norte a Sul do país, como o Hospital dos Lusíadas, em Lisboa, ou o Hospital da Boavista, no Porto. A HPP Saúde, também conhecida por Hospitais Privados de Portugal, é igualmente responsável pela gestão do Hospital de Cascais, no âmbito das PPP – Parcerias Público Privadas.

Na qualidade de falso Recibo Verde conheci diversos colegas na mesma situação. Alguns reclamavam, outros calavam e outros tinham esperança de ter um contrato. Os falsos Recibos Verdes encontravam-se espalhados, quer na sede da HPP Saúde, quer nas unidades hospitalares. No Hospital dos Lusíadas, por exemplo, no final de cada mês, formava-se uma extensa fila de falsos Recibos Verdes. Autêntica romaria aos Recursos Humanos.

Perante algumas situações, era revoltante e gritante. Revoltante ver ‘boys’ que nada sabiam a ocupar cargos com ordenados chorudos, ‘boys’ a ter férias 2 ou 3 meses após a admissão, ‘boys’ que não sabem redigir um email, ‘boys’ também falsos Recibos Verdes mas com a garantia de um dia ter um contrato, ‘boys’ que adormeciam literalmente em frente ao computador, ‘boys’ que à falta de trabalho se passeavam pelas unidades hospitalares, ‘boys’ na prateleira a receber ordenados chorudos, ‘boys’ com tachos, ‘boys’ … ‘jobs for the boys’.

Os meses foram passando e, quando chegaram a 12, a esperança de ter um contrato morreu. Precisamente após 1 ano nesta situação, dispensaram-me. Para os conhecedores da situação, apesar de cumprir horário, utilizar as instalações da empresa e ter hierarquia definida, prestava serviços, trabalho liberal e independente… portanto, sai sem direito a indemnização ou declaração para o subsídio de desemprego.
 

Dispensaram não apontando nenhum problema ao meu desempenho. A equipa que integrava, enorme, necessitava de reformulação. Nas entrelinhas lia-se que os ‘boys’ estavam isentos de dispensa. Gastos supérfluos, como a mão-de-obra barata e alguns prestadores de serviços, teriam de ser os custos a abdicar. Aprendi que em ambientes de ‘boys’, trabalhar não vale de nada, também não vale de nada ser profissional; vale, sim, ser ‘boy’ ou protegido de ‘boy’.

O site dos HPP – http://www.hppsaude.pt/hpp.html”

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