Testemunho (internacional): precariedade entre Portugal e Espanha
Recebemos este testemunho, para ser aqui publicado. Como se percebe, só ajuda a confirmar que a precariedade, infelizmente, tem cada vez menos fronteiras e que se organiza bem entre países e suas universidades…
“Trabalhar à borla faz bem ao espírito, mal ao estômago
Sou uma estudante espanhola de Publicidade que está a acabar o seu curso e a começar a descobrir o fascinante mundo profissional.
Em España, o meu curso é de cinco anos, e depois de estar este tempo a trabalhar nele, saber quatro idiomas e ter montes de seminários, congressos e ter feito concursos internacionais, descobri que o meu trabalho não vale mais de 225 euros para uma empresa.
Falemos então em precariedade laboral…
As pessoas que como eu acabaram o curso em esta altura (com a que dizem ser a pior crise dos últimos 60 anos), saímos da universidade com vontade de pôr em pratica aquilo que sabemos e de trabalhar naquilo onde investimos dinheiro, esforço e tempo. Até aqui, igual a todo o mundo. A diferença é que nós temos de lutar com muita competência por trabalhos à borla ou miseravelmente pagos, porque estamos desesperados.
Em Maio pedi um estágio Erasmus para Portugal. A minha universidade acordou com a agência que o meu ordenado ia ser de 225 euros… Passou o tempo e depois de obter uma boa avaliação e trabalhar até 13 horas por dia, pedi para ser aumentada para ficar mais tempo até pelo menos 400 euros (que era o que ganhavam os estagiarios portugueses). Demoraram duas semanas a responder. Obviamente voltei a España e ando a procura de trabalho já faz 4 meses.
Surpreendentemente, até recebi dois telefonemas de duas empresas que me ofereceram trabalho sem qualquer remuneração, de segunda a sábado minimo 6 horas, e que devia aceitar porque com este emprego ia aprender muitíssimo…
Assim é, queridos vizinhos… nós estudamos e eles aproveitam o facto de nós não termos experiencia para nos fazer acreditar que merecemos ter um ordenado que pelo menos cubra as despesas mínimas, porque eu este Verão paguei para trabalhar. É por isso que sim, pode ser que trabalhar à borla encha o nosso conhecimento mas não enche o nosso estômago.
Ana Claudia Arias”






