Testemunho: mais precariedade no Estado, via ETTs
Publicamos aqui um excerto de um comentário a um post recente, no qual uma anónima responde ao “ricardo” sobre o call-center do escândalo (da Segurança Social, em Castelo Branco).
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É mais uma prova, mais um testemunho, que confirma a dimensão da precariedade no Estado e a aposta nas Empresas de Trabalho Temporário – para enriquecer os amigos do Provedor Vitalino e lavar as mãos, como fazem tantos patrões. Ou pior, talvez… É esta a nova estratégia do Governo para simular que “o Estado fará a sua parte”, promessa repetida maquinalmente, várias vezes e exactamente com a mesma frase, por José Sócrates e Vieira da Silva, a propósito da eliminação dos falsos recibos verdes no Estado.
Queremos continuar a recolher estes e outros testemunhos! Só assim poderemos conhecer melhor e denunciar a realidade da precariedade em Portugal, escondida pela chantagem e pelo medo! Usar este blog como megafone nem precisa de assinatura!
Aqui vai o excerto, então (os bold são nossos):
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Caro Ricardo,
Escreve uma precária que já ultrapassou os 40 anos, nada tem a ver com esquerda ou direita e não está ligada aos Precários inflexíveis.
Se este é um projecto para ficar, porquê entregá-lo a uma Empresa de Trabalho Temporário (ETT)? Não se trata apenas de manter vínculos mas de criar novos. Para além da precariedade que muitos de nós, muitas vezes sem direito a férias ou dinheiro para elas, sentimos, há o esbanjar do dinheiro que é público e que é pago às ETT’s.
Estou neste momento num departamento do Estado, contratada por uma ETT. É um local onde, como diz, ou os seus colegas fazem muito pouco (hipótese que não excluo), ou necessitam efectivamente de gente. Mas nós, os contratados, estamos todos os meses com a guilhotina sobre o pescoço. Só dois dias úteis antes do fim do mês, sabemos se teremos ou não emprego no dia 1… e não faltamos, não nos atrasamos, não gozamos os tais 30 minutos a que dizem termos direito. Sei que entre os 14 que se mantêm (dos 50 iniciais), os objectivos são DUPLICADOS, mas todos temos conhecimento que, no final do mês de Outubro, TÊM de sair 7 pessoas. Que critérios vão utilizar, uma vez que nos mantemos em pé de igualdade, não conseguimos discernir. Apenas sabemos que 7 de nós, alguns com casa e filhos para sustentar, vamos deixar de ganhar os nossos €4,38/hora (o que é quase o dobro do que se pratica num call center, por onde também já passei) porque o Estado, para o qual prestamos serviço, prefere pagar uma quantia que desconheço (duvido que consiga ter acesso ao tal caderno de encargos) a assumir a responsabilidade de empregar gente da qual mostra necessidade. (…)”