Testemunho: Mais um relato dos bastidores da Parfois
Recebemos o seguinte testemunho:
Nos dias de hoje, as lojas Parfois dos grandes centros comerciais são o maior centro de exploração que algum dia constatei! Por isso , está na hora de revelar o que realmente se passa numa das lojas made in china mais cara.
As colaboradoras entram todos os dias às 8h30 (ou até por algum motivo chegam a entrar às 8h ou 7h, excepto domingos e segundas-feiras em que entram às 9h da manhã pois não recebem mercadoria.
A loja por norma funciona da seguinte forma:
8h30 – Logo pela manhã as 3 ou 4 funcionárias do turno da manhã recebem mercadoria, abrem e arrumam o que conseguem até a abertura de loja às 10horas.
10h00 – Abre a loja e começam a trabalhar nas vendas e no atendimento ao público, tentando sempre atender todos os clientes que entram (como devem imaginar não são poucos!), o que faz com que sejam robôs. Se não conseguirem atingir o objectivo alguém, que é supostamente designado como gerente, ameaça a toda a hora que serão cortadas comissões, que supostamente correspondem à recompensa de horas extras, segundo a mesma. O que não é verdade! Comissões de vendas são recompensas por atingir determinados objectivos mensais, horas extras são horas extras, comissões de vendas são outras coisas. (Já agora, sem dizer que não podem retirar aos trabalhadores o que é deles por direito.) A crise está de tal forma que quem tiver emprego tem que dar graças a Deus por ainda receber algum ao fim do mês, existindo alguém que enriquece cada vez mais à custa de quem quer sobreviver, não pagam nem nunca pagaram horas a mais por dia. E a questão aqui é que as funcionárias dão horas a mais TODOS os dias! (E ninguém está a falar de minutos, estamos a falar de 3horas no mínimo a mais.) A gerente tem ainda o descaramento de dizer, com orgulho, que “se estas coisas continuam” um dia cortam as comissões e começam a pagar horas extras 1€ por hora.
Acontece que ainda exiete lei. E segundo o Artigo 258.º Trabalho suplementar :
1 – A prestação de trabalho suplementar em dia normal de trabalho confere ao trabalhador o direito aos seguintes acréscimos:
a) 50% da retribuição na primeira hora;
b) 75% da retribuição, nas horas ou fracções subsequentes.
2 – O trabalho suplementar prestado em dia de descanso semanal, obrigatório ou complementar, e em dia feriado confere ao trabalhador o direito a um acréscimo de 100% da retribuição, por cada hora de trabalho efectuado.
Sendo assim, 3 horas a mais = 5.60€ por dia, correspondem ao fim de um mês a 134.60€, que não podem ser cortados por ninguém, mesmo que queira colocar um “castigo”. Quase o valor das comissões! Sem contar com horas nocturna e com trabalho em dias de folga (que além de ter que se lhe restituir a folga terá de lhe pagar o dobro)!
17h – no fim do turno existe uma passagem de caixa, em que os colaboradores ou a gerente contam para detectar falhas e/ou erros. Se na mesma existir alguma falha de dinheiro, todos terão de restituí-lo do próprio bolso, quando a empresa não dá qualquer tipo de subsídio de caixa (e ainda por cima não há o mínimo interesse em saber de onde vem o erro, não existem mapas detalhados de vendas nem nada parecido). Conclusão : todos os dias falta dinheiro, segundo os relatos… no mínimo 3 euros ou mais, às vezes chegam a faltar 20 euros… Para esta situação, é usada mais uma vez a chantagem de que todas estas funcionárias recebem boas comissões e como tal podem perfeitamente colocar na caixa dinheiro do seu bolso. Quem não aceitar, é ameaçado de que lhe serão cortadas as comissões de VENDAS e descontado no ordenado o valor a repor em caixa. Deste modo todas as colaboradoras que necessitam de um emprego vão aceitando (as que não aceitam começam a ser vitimas de pressões psicológicas, de forma a que quem não entra neste “jogo” de má fé se despeça).
Muitas pessoas referem que as colaboradoras fazem horas extras, pois guardam o trabalho para o fim. Esta situação é completamente falsa. Diariamente por volta das 9h ou mais tarde, as lojas da Parfois recebem imensas caixas de mercadoria que necessita de ser desembalada e organizada pelos colaboradores.
Geralmente de manhã estão entre 3 a 4 colaboradores por loja, em que a estrita ordem é estarem todas a vender para atingirem os objectivos. Tendo em conta que a partir da hora do almoço, surge apenas um colaborador a efectuar horário da tarde para fazer apoio, a rotatividade de colaboradores para irem almoçar (30min por cada um), quando chega às 15h já só falta 1hora para os do turno da noite chegarem e 2 horas para o turno da manha acabar.
Esta situação demonstra, que é impossível cumprir a ordem de vender…e ao mesmo tempo conseguir no horário normal de trabalho descarregar e organizar mercadoria.
Face a isto, a posição da gestora de loja é apenas uma: ameaçar e chantagear, para que o “impossível” seja feito. E é aí que os colaboradores são forçados a fazer horas extra, não como pontuais excepções, mas sim regularmente.
Às 17h está tudo pronto para finalizar o turno, no entanto existem sempre coisas por fazer. Coisas essas, como já referi atrás são impossíveis realizar no horário normal. E mesmo que alguma das colaboradoras que entre às 10h (a hora por qual é contratualmente dado inicio á remuneração) é lhe negado sair á hora. Para saírem, ficam obrigadas a esperar pela ordem da gerente (pessoa esta que ainda tem o descaramento de dizer “Sim, podem sair e amanhã as 8.30 sem atrasos”). As pessoas saiem mais tarde e entram mais cedo do contratualmente estipulado e ainda recebem a insinuação da gerente, de que ”ou amanha novamente aqui à hora que eu quero…ou faço vos a vida negra”.
A superior quando chega dependendo do seu humor, ou se n
o turno em causa está alguém a quem queira realizar pressão, ou ainda se os objectivos não são cumpridos, esta recorre constantemente às câmaras.
o turno em causa está alguém a quem queira realizar pressão, ou ainda se os objectivos não são cumpridos, esta recorre constantemente às câmaras.
Ainda relembro que todas estas colaboradoras, até esta hora, apenas tiveram 30min para ingerir alimentos. Não lhes é permitido tomar o pequeno almoço, nem existe sequer uma pausa de 10min, só é permitido dar uma trinca, engolir e ir para fora.
17h30-18h30 – sai o turno da manhã e resta o turno da noite, que terá que vender ainda mais até às 0h, isto se a empresa não enviar um email a meio do turno a dizer “hoje terão que etiquetar todos os produtos da loja porque amanhã entramos em promoções” . E aí a gerente contacta todas as colaboradoras a dizer “tens de estar aqui às X horas, para vir trabalhar” ou então “ TENS DE VIR TRABALHAR, se não vens ficas sem comissões!” . Esta má gestão não vem só das chefias das lojas, mas também quem está no outro lado a comandar. Está mais do que visto que esta empresa está rodeada de pessoas desorganizadas e que brincam com os funcionários como se eles fossem máquinas e não tivessem vida própria. O turno da noite tem na mesma 30min para jantar.
1h-1h30 – Acabam-se todas as limpezas e todas as arrumações .
Aqui está explícita a exploração e manipulação de funcionárias pelos seus superiores. A única forma que têm de serem “temidos” e de “coordenar” uma loja com uma equipa “motivada” é ameaçar retirar comissões e mandar para o desemprego.
Sabe-se que algumas já não recebem comissões, ou nunca receberam e mesmo assim continuam a prestar horas extras e a desempenhar o seu profissionalismo, sendo ainda assim constantemente chamadas de incompetentes. Depois gera-se desmotivação constante!
Ainda custa compreender o porquê de defenderem tantas mentiras, esconderem verdades. E já agora quem é que está a defender tanto a parfois? As ditas chefias de loja! Compreendo que as expectativas de vida destas pessoas sejam quase nenhumas, pois muitas delas fora da parfois não irão ter muito por onde se virar. Ah! Depois de quantos anos de trabalho? Depois de quantas horas de dedicação? Alguma vez te passaram a efectiva? Quantas vezes vieram ter com elas e disseram, despede-te e depois voltamos a empregar-te? Quantas gerentes ao fim de 5 anos é que ficaram efectivas?
Todo este texto não pretende prejudicar ninguém, nem a empresa , nem é nenhum tipo de inveja como muitas chefias dizem por aí. Apenas estamos a lutar pelos direitos dos trabalhadores, os quais cumprem os seus deveres, não são recompensados e não lhes é dado o devido valor! Pedimos às autoridades competentes que inspeccionem da melhor forma, e não como casos anteriores em que a autoridade, em vez de falar com os queixosos, fala com as gerentes de loja que previsivelmente pintam sempre um quadro lindo, e dizem : “elas ganham 6euros de subsidio!! E têm uma hora para comer!”. E a suposta autoridade diz: “ai sim?? Então porque se queixam?” Alguma vez a autoridade falou com alguma colaboradora queixosa?
Como prova de tudo aquilo que aqui é mencionado nada melhor do que pedir picagens, ou ver câmaras. Já que se servem como prova para prejudicarem as colaboradoras, também poderão ser usadas como a favor das mesmas.
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Tenho dúvidas em relação às horas suplementares. Cada um diz uma coisa. O tribunal diz uma, a ACT diz outra, uma contabilista minha amiga outra, e claro, os meus ex patrões que não me pagaram as horas que fiz, outra. Ou existe diferentes leis para as horas extras ou raios que ninguem se entende. Concordo com a ideia de usar as câmaras a favor dos empregados.
Este é um bom testemunho, já chega de exploração, infelizmente essa loja é uma gota no oceano!
A verdade hoje em dia é esta: «Missão Impossível: arranjar emprego / trabalho».
E depois, os poucos que há, os patrões abusam.
Sou comercial e as horas extraordinária e dias de férias – contabiliza-se 50% -ficam para o “cimento”. Fui questionar o meu patrão e este fez o seguinte reparo: São horas que o funcionário retida da empresa param resolver problemas pessoais. Devo ter muitos problemas pessoais! Vejo pessoas na mesma empresa a fazer trabalhos menos qualificados e a ganharem consideravelmente mais e penso: porque será? Querem motivação?
Também trabalhei na Parfois e despedi-me pois tinha aulas smp as oito da manhã e metiam-te smp a fazer fecho de loja obrigando-me a ficar lá horas depois da hora de saída, perdi a conta as vezes que perdi o barco, como é que é possível “sair” as dez e meia mas só chegar a casa à uma da manha.
Diziam-me com um dia de antecedência que afinal tinha de trabalhar na minha folga como full time (eu era para time) e quando eu recusava por já ter coisas combinadas geravam mau ambiente , gritavam como se fosse nossa obrigação.
As supervisoras supervisionavam muita coisa mas os nossos horários mal feitos não era de certeza, pois quem fazia noite e saia à meia noite pq ficar lá horas extras no dia a seguir tinha de estar às nove lá novamente.
As horas que eu fazia a mais , pq eu nunca saia a horas, não era remuneradas.
Ola, Sou jornalista e estou a fazer trabalho sobre exploração, ‘escravatura’ no trabalho nos dias de hoje. Quem trabalhou na parfois pode falar comigo? sob anonimato claro. O meu email e catguerreiro@hotmail,com