Testemunho :: resposta a "Ocupação: Desempregado"
Kambiz Derambakhsh/Iran |
Publicamos hoje este testemunho que recebemos nosso mail, escrito em forma de resposta a um artigo publicado na Revista Tabu, do Jornal Sol, no fim de semana de 15 e 16 de Janeiro de 2011. O mesmo texto foi publicado no blog: Jovem Inexperiente.
“O título é sugestivo “Ocupação: Desempregado”, a letras bem gordas, para chamar a atenção do mais incauto leitor. O artigo serve de ponto de partida para este texto. Ponho os olhos abaixo e pasmo-me com um: preferem formações financiadas a propostas de trabalho..e até deixam fugir salários de 1.500 euros. Para qualquer cidadão que leia este triste artigo da jornalista Paula Cardoso sugere que muitos portugueses vivem à custa de subsídio de desemprego ou afins e que até preferem recusar um salário fenomenal, para os tempos que correm, de 1.500euros!!
Por forças das circunstâncias da situação laboral que Portugal vive existem milhares de desempregados. Alguns não têm subsídio de desemprego. Alguns deste desempregados serão jovens e inexperientes, com Licenciatura, Pós-graduação, Mestrados e quem sabe até Doutoramentos! Ao ler este artigo-reportagem, como lhe queira chamar o leitor, fico chocada com o desfasamento com que a jornalista descreve a situação do país e o que vejo, experiencio na rua, nas minhas vivências diárias, na conversa de café, com um amigo ou mesmo com um qualquer desconhecido.
É certo que há gente para aí aos pontapés a viver de um subsídio de desemprego e que não quer abdicar do mesmo por um qualquer trabalho, em que aos 475.00 mais subsídios de almoços e proporcionais às férias e respectivos descontos de IRS e Segurança Social, tem que pôr os deslocamentos (quer seja em transportes públicos; combustível). Vejamos e convido a dita jornalista a ir ao sítio: http://emprego.sapo.pt/, em que as ofertas se multiplicam sobretudo para o aliciante mundo do Call Center. As ofertas são uma constante e neste e noutros sítios da especialidade. É frequente também passar em qualquer esquina, sobretudo em Lisboa, e ver a letras gordas e coloridas, Agências de Trabalho, que não são mais do que Feitorias de escravos do século XXI.
Vejamos o caso de um dos mais célebres call center de Portugal: prefere pagar bem e boa hora a uma Agência de escravos do que contratar, condignamente, um trabalhador. O esquema pode iludir um ingénuo trabalhador, leia-se alguém que precisa desesperadamente de trabalho, ou porque não recebe um subsídio ou porque gosta de trabalhar, precisa de trabalhar para o seu bem-estar físico e psíquico (apesar de receber um subsidio). São realizadas sucessivas formações, de sensivelmente 2 em 2 semanas, em que já na última semana o formando sobe até ao andar, onde se passa a acção, e começa aquilo a que as meninas que trabalham nas agências gostam de denominar de “formação on-job”, ou seja mão-de –obra barata, num curto espaço de tempo. O formando se estiver apto ganha 2,70 e se não estiver apto 1,60 à hora. Se tudo correr bem, isto é se o formando for bem comportado, chegar sempre com um mínimo de 10 minutos antes da sua hora de entrada ao computador onde estará atender os clientes, que ligam sedentos de informação sobre os mais diversos assuntos, é então assinado um excelente contrato de trabalho de 15 dias, com direito a um período experimental, que pode dar direito a despedimento sem qualquer explicação. Se tiver mesmo muita sorte e perseverança após os 15 dias e muitas vendinhas, em tempo de crise, assina um novo contrato de 15 dias…e assim sucessivamente. Aliciam com comissões, que por vezes são objectivos inatingíveis, tal é a quantidade de pré-requisitos que é necessário preencher para obtê-las.
Quanto a pagamento..aqui sim Sra Paula Cardoso vem a melhor parte. Então é assim: a formação é paga uns 5 dias depois da maravilhosa formação teórica e on-job, isto se não houver nenhum empecilho no caminho e tenha que ligar para a sua agência a dizer que não foi paga a tempo e horas. Se tiver a sorte de ter assinado um contrato algum tempo depois de o mês ter iniciado, só terá direito aos dias que vão desde a assinatura do contrato até ao dia do fecho da contabilidade da empresa (obviamente).
Agora eu pergunto-me: é necessário flexibilizar ainda mais o trabalho ou as leis laborais?
O que é que preferia um subsídio na mão ou um contrato de 15 dias?
O que é que preferia um subsídio na mão ou um contrato de 15 dias?
Permita-me um conselho Sra Paula Cardoso, que tal fazer um jornalismo sério e de investigação sobre a realidade laboral do país? Porque não infiltrar-se no maravilhoso mundo do call-center? Dava sem dúvida um bom artigo. Ou porque não tentar definir o perfil do empregador português, que na maioria das vezes, é um tipo sem estudos, que singrou à custa do trabalho árduo, mas que como chegou longe acha-se no direito de espezinhar, diminuir o seu empregado. Ficam as sugestões.
Temos dos ordenados mínimos mais baixos da Europa, pagamos exorbitâncias de combustíveis, em comparação com determinados artigos: medicamentos, comida, produtos de higiene; pagamos dos preços mais altos da Europa, tendo em conta o valor do ordenado mínimo.
E pergunto-me mais uma vez: isto é justo? Para quê flexibilizar mais o trabalho?
Que futuro será dos jovens?
Que futuro será dos jovens?
Revolta-me a imagem de malandros inexperientes que pintam dos jovens licenciados portugueses, que saem de uma universidade sem experiência e preparação para enfrentar o mundo laboral. Sempre ouvir dizer que quando uma relação está mal a culpa não é só de uma parte. Constato que o mundo académico português é profundamente desajustado de forma a permitir que os jovens possam ter um part-time enquanto estudam, que beneficiem de um ensino mais “hands-on” e menos teórico.
A comunicação social tem um dever fundamental na sociedade contemporânea, esse dever prende-se, na minha opinião, na necessidade de ir com rigor e profissionalismo ao fundo da questão, fugindo do sensacionalismo óbvio e deprimente.”
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Contra factos não existem argumentos.É realmente triste…
Vejam esta página. Podem calcular quanto vão pagar de segurança social com o novo regime…está muito bom!!!!
http://www.saldopositivo.cgd.pt/quanto-vao-pagar-os-recibos-verdes/
Li o texto e não concordo que seja sensacionalista. Infelizmente eu sempre conheci gente que prefere esticar o subsídio a procurar emprego. A minha namorada já trabalhou em recrutamento e contava histórias incríveis,do tipo das que estão nesse artigo. Gente que reclama que não tem o que comer e que depois se dá ao luxo de recusar trabalho porque estão à espera de empregos. Recomendo também a leitura de um trabalho da Visão, com testemunhos reveladores da geração Nem Nem. Uma referia-se à mãezinha como um banco, outro dizia que se não encontrasse uma oportunidade ao encontro das expectativas ia fazer mais uma pós-gradução. O que tenho a dizer é que ainda hoje continuo à procura da minha oportunidade, mas isso não me impede de trabalhar. Aliás, andei 6 anos a recibos verdes antes do meu primeiro contrato. Não morri nem me dei por vencido. Fui à luta. Mas parece que isso cansa e o tempo não está para estafas.
Certissimo, Caro Alexandre.
Eu não tive oportunidade de ler a Visão e respectivo artigo.
As generalizações são perigosas, sobretudo as que as comunicação social faz!E as que tenho visto ultimamente são abusivas.
E digo.lhe mais há muito boa a gente a ir para o call center e deixar o seu súbsidio de desemprego, para serem postos na rua nem um mês depois.