Testemunho: "vou procurar trabalho num país que não conheço"
Há milhares de pessoas a procurar emprego noutros países |
Dentro de 1 semana parto e não consigo apagar da memória o dia em que assinei o contrato com o banco que me emprestou dinheiro para que eu (veja-se só a ousadia) pudesse estudar, esquecendo-me de consultar a vidente que me explicaria o estado da economia actual.
Estamos em Setembro de 2012 e, claro está, há 15 meses que da minha conta caiem 345€ para pagar o dinheiro que o caridoso banco me emprestou de forma a que eu, ousada jovem mulher, tirasse um curso superior. Estamos em Setembro e há já 6 meses que não me entra um salário. Estamos em Setembro e há 24 anos que não tenho uns pais ricos. Estamos em Setembro e, há já não sei quanto tempo, quero ser livre. Estamos em Setembro e o pior é que há sempre alguém pior.
Para que fique claro (e esta é para ti Coelho), não, não vou seguir o conselho de nenhum primeiro-ministro cabrão que manda o seu país emigrar. Não, não vou fugir deste país que está apodrecer nas mãos de políticos neoliberais e corruptos. Vou apenas lutar pela minha sobrevivência. Vou apenas lutar para me ver livre das amarras do capital o mais cedo possível. Vou apenas lutar para que os meus sonhos voltem o quanto antes, que esta coisa de nos enclausurarem a arte, um dia explode e fere os olhos de quem não quer ver a liberdade.
Sei que andam há anos a tentar ver-se livres dos direitos que adquirimos, sem se lembrar que dentro das nossas cabeças vive um monstro que pensa e, logo, resiste. Sem se lembrar que a cada dia que nos esmagam mais um bocadinho, nós, infortunadamente para vós, ficamos mais fortes. Aqui, ali ou acolá.
Dentro de uma semana parto com o medo do desconhecido, mas com a esperança de um povo que vi lutar como nunca. Um povo que depois de acordado só pode adormecer para sonhar. Um povo que tem a possibilidade de ser livre pelas suas próprias mãos.
Estamos em Setembro, daqui a 5 dias entra o Outono e ele só me parece Primavera, aqui, no país que eu deixo, para voltar.
Catarina Fernandes
PS: Onde quer que eu vá lutarei também.»
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