+trab. temporário => -formação -produção +desemprego +precariedade


O raciocino é simples e óbvio, quanto maior for a estabilidade das relações laborais maior é capacidade e possibilidade de aprendizagem e de criação de conhecimento, portanto, maior é a qualificação. A estabilidade do trabalho possibilita o aprofundamento e o ganho de competências, mas também o fortalecimento das relações e o aperfeiçoamento da divisão técnica do trabalho, assim como a criação de identidades individuais e colectivas. Por outro lado, o trabalho estável possibilita a prática e o desenvolvimento de outras actividades da esfera social, económica, ambiental e política essenciais para o desenvolvimento sustentável. Estes são factores que, por diversos motivos (evolução tecnológica, etc.), estão cada vez mais relacionados com a produtividade do trabalho. As Empresas de Trabalho Temporário (ETT’s), que actualmente representam fortemente o caminho da fragmentação  do trabalho à escala temporal e espacial, mas também ao nível das relações hierárquicas (trabalhador-ETT-“utilizador”) e colectivas, contribuem assim para a instabilidade e precariedade na vida dos trabalhadores, tendo repercussões negativas a vários níveis (económicos, ambientais, sociais e políticos).

O relatório anual da Comissão Europeia, divulgado ontem, conclui que o crescimento da importância do trabalho temporário conduz ao aumento do desemprego e à redução da produtividade (aqui). E informa que Portugal é o 3º país da UE com maior percentagem de trabalhadores temporários: 1 em cada 5 trabalhadores é temporário.

Mas então qual é o interesse dos patrões no trabalho temporário?
Simples, a fragmentação e precarização do trabalho que divide, aliena e chantageia a classe trabalhadora possibilita uma margem de lucro muito maior do que as perdas de produtividade daí decorrentes.
Assim, bem sabemos que a resolução não pode passar pela maior flexibilização do trabalho, porque isso é dividir ainda mais, é o ataque aos trabalhadores, é a precariedade, é a austeridade. Precisamos do contra-ataque, da união, da solidariedade. Precisamos de prolongar o dia 24 de Novembro aos dias que aí vêm e organizar a resposta do movimento dos trabalhadores – a única forma de travar a austeridade sem fim.

Ricardo Vicente

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