Troika em Portugal: recessão e défice

Como há muito se vinha anunciando, mas é agora oficial, as medidas recessivas dos planos de austeridade da troika impediram o próprio plano da troika de cumprir o défice de 4,5%. Esta espécie de profecia auto-concretizável vem reafirmar o que já se conhecia – a austeridade não funciona. Não funcionou na Grécia, não funcionou nas outras dezenas de países em que foi aplicada. E hoje montar-se-á um novo teatro em que se fingirá que há uma negociação para que a troika dê mais tempo ou mais dinheiro em troca de mais austeridade.
imagem: pyn-guyn.blogspot

O cumprimento das medidas do memorando da troika garantiu uma recessão agravada do país, o encerramento de milhares de empresas, um desemprego real próximo de 23% (1,3 milhões de desempregados), uma queda no consumo de 15% e uma previsão de recessão futura (excepto no país das maravilhas em que vivem os membros do governo). Aos que diziam que antes não havia dinheiro é importante referir que agora há bastante menos dinheiro do que quando a troika chegou, e é por culpa das políticas económicas da troika reforçadas pelo governo. Aos que dizem que é importante cumprir os compromissos é preciso dizer que havia compromissos prévios, democráticos, muito mais importantes, nomeadamente a lei e a constituição, e desses foi feita tábua rasa. E um governo que há poucos meses dizia que não precisava de mais tempo nem mais dinheiro vai hoje pedir pelo menos um deles na reunião com a troika, oferecendo em troca mais sacrifícios a cumprir não por eles, mas por nós. A subserviência é patente nas declarações de Jorge Moreira da Silva, do PSD que diz que o governo espera “boa vontade” das autoridades internacionais, e que “a troika terá capacidade para responder ao desafio lançado pelo Eurogrupo e pelo Ecofin de que o programa português é bem-sucedido”.  A troika não terá grandes dificuldade em aceitar receber mais dinheiro, mais juros e durante mais tempo, pelo que teria também muito interesse em fazer um novo empréstimo. Também estaria interessada em que Portugal seja um país cada vez mais pobre, mais devastado pela miséria e que os seus bens públicos sejam entregues de mão-beijada, pelo que estaria obviamente interessada em mais austeridade. O único interesse em toda esta equação que não é acautelado é o nosso. Porque estas são reuniões contra nós.

notícia Público

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