UGT atira toalha ao chão | Opinião

carlos_silva_ugtDiz o ditado que quando não conseguimos vencer o inimigo nos devemos juntar a ele. Há ditados populares para todos os gostos, nem sempre têm razão e muitas vezes são contraditórios, mas a UGT decidiu levar este à letra e afirmar que está de acordo com a precariedade laboral patrocinada pelo governo PSD/CDS – pela mão de Pedro Mota Soares, que parece querer elevar-se de carrasco a exterminador de precários.

O governo quer voltar a aumentar o tempo de duração dos contratos a prazo, estendendo “extraordinariamente”, até 2016, a possibilidade de os empregadores não darem um vínculo de contrato permanente a quem, por lei, tem direito a ele.

Carlos Silva, Secretário-Geral da UGT ofereceu-nos esta pérola de demagogia e de aceitação de inevitabilidades: “E devo dizer, em nome do pragmatismo, que, entre desemprego, que é uma chaga social, e a precariedade laboral, que é outra chaga social, costuma-se dizer que venha o Diabo e escolha, mas há uma pior que a outra: é preferível termos contratos precários do que não termos contrato algum”. A UGT passou-se para o lado daqueles que aceitam a precariedade como solução no combate ao desemprego. O Carlos Silva, como sindicalista que é, sabe que com o aumento da precariedade tem aumentado o desemprego?

À saída da reunião desta manhã da Concertação Social, Carlos Silva, muito contente com a sua capacidade de diálogo, anunciou que a UGT tinha proposto uma reduçãozinha nos prazos propostos por Mota Soares, menos meio aninho aqui, menos meio aninho acolá. Assim a precariedade dói um bocadinho menos e a UGT pode reapertar a mão ao governo.

Aproveitando a ténue descida, anunciada hoje, dos números do desemprego, 17,6% em Maio para 17,4% em Junho, o líder da UGT acredita que este pode ser um sinal positivo. Espera que no meio da recessão económica esta descida do desemprego seja um incentivo para que este governo renovado e legitimado pelo Presidente da República e pela Assembleia da República, arranque com o ciclo de políticas de crescimento económico. O Carlos Silva, como sindicalista que é, por acaso reparou que o desemprego que mais desceu foi o jovem? O Carlos Silva, como sindicalista que é, tem a noção que desde que o Mundo é Mundo o Verão emprega mais pessoas, e principalmente jovens? O Carlos Silva, como sindicalista que é, já comparou o desemprego de Junho deste ano com o do ano passado? O Carlos Silva, como sindicalista que é, legitima a solução governativa encontrada depois de toda a crise política das últimas semanas? O Carlos Silva, como sindicalista que é, sabe que tem de defender os trabalhadores e trabalhadoras e lutar pelos seus direitos?

Depois de João Proença havia quem dissesse que a UGT de Carlos Silva dava sinais de mudança, de ser mais firme e intransigente, mas o que temos é um líder de uma central sindical que desiste de combater a precariedade, utilizando o mesmo argumento que patrões e vários membros do governo já usaram.

Uma central sindical existe para defender intransigentemente os direitos dos seus associados e de todos os trabalhadores e trabalhadoras. Para isso tem duas armas: a contestação social nas ruas e nas empresas e o diálogo e apresentação de propostas. Há muito que a UGT desistiu das ruas, opção legítima, mas quando se assinam acordos, é fundamental que se garantam contrapartidas para os trabalhadores e trabalhadoras. Carlos Silva aceita que o governo aumente a precariedade e ampute mais direitos a quem trabalha.

Depois do cartão amarelo dado ao governo na noite de uma grande Greve Geral, da passadeira vermelha estendida a esse mesmo governo, a UGT deixa cair ainda mais a máscara e relembra porque foi criada. A UGT é conivente com o retrocesso social e com a perda acelerada de direitos laborais. A UGT é a principal responsável pela ideia de que em Portugal há um consenso social alargado que legitima a austeridade.

Os associados desta central sindical sabem que a luta contra a precariedade é talvez a mais importante que os sindicatos terão de travar nos próximos tempos. De certeza que muitos ficaram amarelos de vergonha ao ouvir as palavras do seu líder. Felizmente que no sindicalismo português há alternativas e quem não aceite inevitabilidades.

André Albuquerque

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