Um quinto da população vive abaixo do limiar da pobreza. Resignamo-nos?

Num estudo da TESE, coordenado pelo Centro de Estudos Territoriais do ISCTE, divulgado ontem, conclui-se que 31% das famílias portuguesas se enquadra no escalão imediatamente acima do limiar da pobreza. Estão incluídos neste patamar os adultos que integram agregados em que o rendimento varia entre 379 e 999 euros, ou seja, ganham mais que 60 por cento do rendimento médio. Abaixo deste escalão estão 20,1 por cento de pobres. Juntos, temos mais de metade da população trabalhadora em condições de precariedade. 

Mas esta não é a única conclusão de realce, vejamos então os números:
Um total de 57% das famílias inquiridas, vive com menos de 900€ por mês;
41,3% das pessoas que exercem uma actividade profissional remunerada vive situações de precariedade laboral e mais de 50% considera que o salário que recebe é injusto;
12% não conseguem comprar todos os medicamentos que necessitam;
Trinta e cinco em cada cem encontram-se numa situação de privação alta ou média;
Mais de 50% considera que o ordenado que recebe é injusto;
Um quinto dos inquiridos tem dificuldades no pagamento das contas da casa;
21% destas famílias não tem capacidade de suportar despesas inesperadas, e o mesmo acontece com 21,5 por cento do total de agregados portugueses;
Apesar das dificuldades estas pessoas mantêm um grau de felicidade acima do esperado, numa escala de 1-10 atinge os 7,3. O que os aguenta são a família e os amigos, a confiança nos outros e nas instituições anda baixa, por volta dos 4,5%. Este estado de felicidade é explicado pela investigadora responsável pelo estudo como um estado de resignação que é preciso combater: «As pessoas silenciam as suas necessidades se não virem condições de as satisfazer, baixam as suas expectativas e acabam por se conciliar com a sua própria vida. Nesse sentido, a sociedade portuguesa embora tenha muitas privações, emerge como uma sociedade relativamente feliz e satisfeita consigo própria». A maioria diz-se insatisfeita com a falta de perspectivas e as condições de trabalho. Queixa-se dos salários baixos e da precariedade e mais de 30 por cento diz que gostaria de mudar de emprego. Mas mais de um terço dos insatisfeitos admite que nada faz para tornar real esse objectivo.
Outra questão é a regressão social que está a decorrer. Estas pessoas têm mais estudos e qualificações que os seus pais e têm piores condições de vida, além disso receiam não conseguir responder financeiramente às necessidades de formação dos seus filhos.
Para estas famílias, um dos factores para uma vida sem perspectivas de segurança financeira são os regimes laborais que provocam aumento da pobreza, como os “falsos recibos verdes”.
São vidas congeladas, em “stand-by”, hipotecadas, expressões utilizadas por pessoas que se enquadram neste estudo. Pessoas para as quais comprar um livro, ir ao cinema ou ao teatro é considerado um luxo. São as vidas que vivemos todos os dias, todos os meses, há anos. E começamos a ficar fartos… para mudar esta situação só há uma solução: é sermos nós a força de mudança. É preciso confiarmos mais uns nos outros, nos nossos colegas de trabalho que vivem as mesmas dificuldades que nós, mas com os quais somos artificialmente obrigados a competir. A história do movimento dos trabalhadores está cheia de vitórias. É preciso juntarmo-nos e mobilizar-nos com imaginação, com força e com determinação contra estas vidas que nos querem impor. Achamos injusto o que nos estão a fazer, vamos então mudar as coisas.

 
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