VI. O que quer o Governo? | Amputar e privatizar a Segurança Social
Além da diminuição do apoio na situação de desemprego e do conjunto dos apoios sociais, a degradação das pensões e reformas é para continuar. A defesa do “factor de sustentabilidade”, que vem diminuindo acentuadamente o valor das reformas, é ainda considerada insuficiente. É esta a justificação para a introduzir a “componente de poupança nas pensões de velhice com base na responsabilidade individual” (pág. 90).
Abre-se assim campo à fuga organizada das contribuições para produtos financeiros privados. Ou seja, a principal ameaça ao futuro do sistema providencial público é cinicamente utilizada como argumento para a sustentabilidade da Segurança Social, sempre em nome do “equilíbrio intergeracional sustentado”. Se a isto juntarmos a projectada redução da Taxa Social Única, percebemos como a descapitalização é o resultado e o objectivo destas políticas.
Nas medidas de médio e longo prazo, é evidente o projecto de desagregação do sistema de Segurança Social (pág. 97). A conversão da carreira contributiva, hoje vista como um todo, em componentes correspondentes a “taxas actuariais segmentadas para a pensão de velhice, pensão de invalidez e pensão de sobrevivência”, ou seja, fragmentando as contribuições para as tornar mais frágeis e com menos retorno futuro. Mais uma vez, tudo em nome da “sustentabilidade financeira inter-geracional e a capacidade voluntária de escolha das gerações mais novas” – a insistência nesta combinação de argumentos, sempre ligados, não é casual: é o sinal claro de que, para nos tirar o futuro, será montada uma grande máquina de propaganda em nome desse mesmo futuro.
A Segurança Social pública, que já vem sendo atacada há longos anos, é um direito construído por várias gerações, directamente a partir do seu trabalho. O projecto de transferência da Segurança Social e dos seus activos para os interesses privados é inaceitável. A luta pela Segurança Social, pelo seu carácter público e capacidade de cumprir os seus objectivos, foi e continua a ser uma prioridade na nossa intervenção.
Ver também:
I. O que quer o Governo? | Contrato único
II. O que quer o Governo? | Banalizar o trabalho temporário
III. O que quer o Governo? | Perseguir os desempregados
IV. O que quer o Governo? | Legalizar os falsos recibos verdes
V. O que quer o Governo? | Reduzir a Taxa Social Única