VIII. Multipessoal – uma ETT do Grupo BES que presta serviços ao próprio grupo

O Grupo Multipessoal, que faz parte do Grupo BES, (GBES) congrega várias “empresas de recursos humanos” que operam em Portugal mas também noutros países, como Cabo Verde. O volume de negócios deste Grupo ronda os 50  milhões de euros resultantes do trabalho prestado por 5 mil trabalhadores a cerca de 400 clientes.
Deste bolo, que representa diversas formas de subcontratação do trabalho, faz parte a Multipessoal Empresa de Trabalho Temporário S.A., que opera em Portugal e que declarou um volume de vendas de 21,16 milhões de euros em 2009, o que representa um crescimento de 164,5% relativamente ao ano de 2006. Este crescimento só foi possível devido à propagação das empresas de trabalho temporário (ETT’s) por diversos sectores, das telecomunicações à saúde e, portanto, ao multiplicar do número de trabalhadores mediados por ETT’s que capturam mais de 40% dos salários. As funções que antes eram desempenhadas por trabalhadores directamente contratados pelos seus empregadores passaram a ser executadas por precários, com menos direitos e, essencialmente, menos salário. Com isto os empregadores passaram a designar-se de “utilizadores” e os trabalhadores a moderna e competitiva designação de “colaborador”.
Os lucros das ETT’s dependem exclusivamente do assalto aos salários e da intensificação da chantagem da precariedade. O trabalhador temporário enche a barriga a dois patrões, a ETT e a empresa “utilizadora”. O gráfico seguinte representa o comportamento idêntico entre o número de trabalhadores e o volume de vendas da Multipessoal ETT S.A.:

Nº de precários e volume de vendas da Multipessoal (milhões de €)

De salientar que uma fatia considerável dos serviços prestados pelo Grupo Multipessoal são prestados ao próprio GBES, que lucra assim duas vezes com o trabalho e os salários destes trabalhadores temporários. Como exemplo, em 2008, a Multipessoal ETT S.A. prestou 18% dos seus serviços ao Grupo e a Sociedade Geral de Limpezas S.A., também do GBES, prestou 35%.

Estas são algumas das artimanhas que o patronato vai inventando para filtrar os salários e retirar direitos a muitos trabalhadores. Certamente existe um trabalhador que executa tarefas de limpeza no Banco Espírito Santo através da Sociedade Geral de Limpezas S.A., que por sua vez o contratou à Multipessoal ETT S.A., portanto um trabalhador que tem em simultâneo 3 patrões que são o mesmo, o Grupo BES.
Mais informação:

279 ETT’s = dezenas de milhar de precários
I. Randstad – a maior ETT do país
II. Tempo Team –  um apêndice da Randstad
III. Adecco – Mais de 5 mil precários
IV. Flexilabor – Mais de 1/3 são telecomunicações
V. Flexitemp – tal como as outras ETT’s, não gera emprego
VI. Manpower – o “moderno” traço da precariedade
VII. Kelly Services – a descarada ilegalidade do trabalho temporário

Outros testemunhos:
Trabalhador da Tempo Team (telecomunicações 1)
Telecomunicações 2
Mais um nas telecomunicações 3

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