Violência policial no Bairro 6 de Maio – um atentado contra todos nós

Na madrugada de sábado para domingo, a polícia invadiu o Bairro 6 de Maio, na Amadora, admitindo que iria em resposta a provocações e danos de que teriam sido alvo carros de patrulha da PSP. Desde logo, admitiram que iam em vingança, embora com a desculpa da necessidade da ordem pública. Cercaram o bairro e entraram nas casas das pessoas, destruindo bens e haveres dos moradores e agindo sob o critério da violência desmedida e impune. No rastro da destruição, várias pessoas foram feridas, incluindo um bebé de 1 mês, exposto ao gás lacrimogéneo utilizado pela polícia, que teve de receber assistência hospitalar. No final, a PSP faz um relatório para os media e anuncia as 17 detenções, tentando legitimar a intervenção.

Mas a reportagem da RTP1, por exemplo, falou com os moradores e mostrou o cenário da destruição e da repressão policial. Uma senhora queixa-se da falta de respeito pelas pessoas que diz serem tratadas “como cães” e explica como, naturalmente, e porque as pessoas não desistem da sua dignidade, a acção da polícia desperta sentimentos de revolta. Um outro senhor, dono de uma das casas invadidas, mostra as loiças, o sangue e as janelas partidas e pergunta “quem nos protege da polícia?”

Este episódio aconteceu algumas horas depois da repressão policial no Rossio que tentou impedir a realização da Assembleia Popular e um dia depois de se conhecer a vergonhosa sentença do polícia que assassinou MC Snake.

Infelizmente são cenas de um filme já muitas vezes revisitado: a polícia aproveita-se do isolamento socioeconómico resultante da segregação espacial e social destas pessoas, encontrando na sua fragilidade a impunidade suficiente para agir violentamente e sem olhar a escrúpulos morais ou legais. No caso do Rossio, era necessário dar o sinal expressivo de que os tempos iriam mudar e que os ajuntamentos livres para quebrar o silêncio do conformismo e da inevitabilidade teriam de acabar.

No Bairro 6 de Maio ou no Rossio, ou em tantos outros bairros e praças, assiste-se à reiteração da substituição do Estado de Direito por um Estado repressivo. “Quem nos protege da polícia?”, é a pergunta sensata a fazer. E quem é escolhido para dar o exemplo são aqueles que todos os dias e sob variadas formas já pouco reconhecem esse Estado de Direito, seja pela precariedade das suas vidas sacrificadas ou pela descriminação e racismo a que estão sujeitos, sendo isto, muitas vezes, a única resposta de um Estado onde se instiga à solidariedade zero.

O que aconteceu no Bairro 6 de Maio foi mais um atentado contra todos nós – contra todos/as os/as que recusam este Estado cobarde que só ataca os mais fragilizados, a democracia de fachada e a exploração.

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