A precariedade no topo da agenda

A precariedade, a par do desemprego e dos baixos salários, deveria, há muito, ser finalmente encarada com a coragem que os desafios decisivos exigem. Sabemos que o fim deste flagelo cimeiro da sociedade portuguesa não está à vista. Mas nesta reentrée, pelo menos, o emprego e a precariedade estão no topo da agenda política, o que se saúda. Não será suficiente, mas é uma condição para a alteração da situação actual e a prova de que as vozes precárias já são mais audíveis, no conjunto de todas as outras.

Apenas alguns exemplos, para lá do já muito discutido, desastrado e revelador arranque de José Sócrates, em Santo Tirso:

– com o novo ano lectivo a começar, ficamos a saber que 40 mil professores/as ficaram sem colocação, o que já motivou o protesto da FENPROF, que lembrou (e bem) que muitas destas pessoas vêm exercendo as suas funções a recibo verde (nas actividades de enriquecimento curricular, nomeadamente). José Sócrates diz que “o tempo das facilidades acabou”, mas sabemos que as dificuldades ficam sempre do mesmo lado (e as facilidades também, já agora). Convém lembrar que, além de se provar todos os dias, em todas as escolas, que fazem falta mais docentes, metade destas pessoas nem ao subsídio de desemprego tem direito.

– o PCP vai aproveitar a Festa do Avante! para lançar uma campanha nacional “contra as alterações ao código do trabalho, a precariedade e pelo aumento dos salários”.

– o Bloco de Esquerda agendou para este mês a sua Marcha contra a Precariedade e divulgou também vídeos com testemunhos precários no seu site.

– os Trabalhadores Social-Democratas já exigiram “aumentos de 4 por cento para 2009”, parecendo ter compreendido, ao contrário de outras pessoas, que a precariedade, o desemprego e a erosão real dos salários entra no dicionário de muitas vidas. Vários sindicatos da administração pública já vieram também fazer a mesma proposta.

Entretanto, há gente em greve a sofrer as pressões do costume. Há gente a ser despedida todos os dias, depois de décadas ao serviço da mesma empresa. E ainda há gente com descaramento para achar que podíamos ganhar ainda menos um terço dos nossos salários (porque vive à custa deles).

Precisamos de todas as contribuições para manter vivo o tema da precariedade. E de toda a combatividade para lhe dar a volta. Só prometemos juntarmo-nos a ela.

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