Análise | Uma questão de género – Desemprego e Precariedade nas Mulheres
As mulheres têm sido historicamente o género mais prejudicado na divisão do trabalho, que é o reflexo dos preconceitos e discriminações que determinam as relações não só pessoais, como societais. Segundo a análise dos dados desde 2006, as mulheres situam-se sempre acima da média no que diz respeito ao desemprego e à precariedade – isto é, as mulheres são a maior parte do conjunto dos desempregados, assim como são a maior parte do conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras precárias. Dentro do conjunto de pessoas no desemprego, a fatia das mulheres tem descido, o que estará intimamente relacionado com a divisão sexual do trabalho e com os despedimentos massivos em sectores essencialmente masculinos, como a construção civil. No entanto continuam a constituir a maior parte das pessoas desempregadas. Dentro do conjunto das pessoas que trabalham de forma precária, a percentagem de mulher também tem caído, havendo hoje 847.800 mulheres precárias, num total de 1.672.200 precários (excluindo part-times), representando 50,7%. Há também 565.900 desempregadas, num universo de 1.014.200.
NOTA: Em termos de total da população, a percentagem de mulheres oscila entre os 51 e os 52%. No entanto, esta percentagem não é explicativa para as percentagens superiores de mulheres no desemprego e na precariedade. A taxa de actividade das mulheres é bastante inferior à dos homens, pelo que há mais homens que mulheres a trabalhar e essa realidade não esconde que, mesmo assim, no total há mais mulheres precárias que homens precários, e mais mulheres desempregadas do que homens desempregados. Recentemente veio a público que oficialmente a taxa de desemprego de homens é superior à taxa de desemprego de mulheres (invertendo a tendência histórica que indica o contrário). No entanto, temos de referir que fizemos os nossos cálculos com base no desemprego real e não no desemprego oficial, pelo que somámos as mulheres desempregadas oficialmente às mulheres inactivas e desencorajadas, que são também desempregadas e que o INE e o IEFP excluem das estatísticas.
Há muitas semelhanças entre as tendências gerais de quem trabalha a vínculos precários e as tendências nas mulheres, que constituem a maior parte do precariado. É de assinalar a grande queda de trabalhadoras a contratos a prazo, em particular desde a assinatura do memorando da troika, havendo mais 58.900 contratadas a prazo que ficaram desempregadas. Os part-times não sofreram uma subida acentuada, o que indica que a maioria dos novos part-times serão nos homens. A maior parte das pessoas subempregadas são as mulheres, para as quais houve uma grande subida desde a assinatura do memorando. As mulheres são 144 mil das 247 mil pessoas em situação de subemprego (58,3%).
Finalmente, no que diz respeito ao desemprego, podemos observar, pelas estatísticas do desemprego oficial (deixando de fora importantes fatias de pessoas desempregadas, como já referimos), que historicamente o desemprego feminino esteve sempre acima do desemprego geral (indicando agora as estatísticas oficiais que pela houve há um trimestre atrás uma pequena inversão desta situação). Ainda assim, é possível observar o grande flagelo do desemprego nas mulheres jovens que, reforçando a tendência para todos os jovens, estão mais expostas à precariedade quando entram no mercado de trabalho, recebem salários mais baixos (os dados mais recentes apontam para 21% de diferença de ganho salarial entre homens e mulheres) e estão mais expostas ao regresso ao desemprego. Este “mercado de trabalho”, além de fortemente exploratório da mão-de-obra, que exige barata, está ainda munido de preconceitos de género, representando em pleno o patriarcado masculino que gere (mal) a sociedade, a economia e a política, subjugando as mulheres, em particular as mulheres pobres.
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