Bruto da Costa: "sem atacar a desigualdade não é possível resolver o problema da pobreza"

Alfredo Bruto da Costa, conhecido investigador das questões relacionadas com a pobreza, afirmou hoje que a pobreza vai crescer significativamente, não só por via do aumento brutal do desemprego, mas também pelo empobrecimento de quem trabalha ou vive das suas pensões depois de uma vida de trabalho. Além desta constatação, bem visível e já sentida por vastos sectores da população, Bruto da Costa afirma inequivocamente que a origem da pobreza é a desigualdade. Considerando que não se pode combater efectivamente a pobreza “mantendo todas as estruturas que produzem a desigualdade”, defende que esta “tem ser atacada ao nível do rendimento primário: os salários, os lucros e as outras formas de rendimento do capital”.
Depois de, há alguns dias atrás, ter criticado o Orçamento de Estado por estas mesmas razões, estas palavras denunciam que o regime da austeridade, dirigido aos trabalhadores e ao conjunto da população, leva ao empobrecimento generalizado. Contrariando, no fundo, as posições recentes do primeiro-ministro Passos Coelho, Bruto da Costa considera que não se trata duma inevitabilidade, mas sim de uma escolha: criticando o facto de “nenhuma medida de luta contra a pobreza ataca a desigualdade”, afirma que “é preciso um novo olhar sobre a sociedade”.

Enquanto 99% da sociedade tiver de perder rendimentos e direitos para que 1% continue a enriquecer, a pobreza continuará a aumentar e a vida colectiva vai degradar-se – piores condições de vida, menos saúde, mais dificuldades no acesso à habitação, desemprego e precariedade, desmantelamento dos serviços públicos e a sua entrega a interesses privados supostamente em nome da ditadura financeira e orçamental. Basta olhar para a evolução do valor dos salários e confrontar com os lucros gerados a partir do trabalho colectivo mas capturados por poucas mãos. 
Passos Coelho anuncia o empobrecimento como saída para a crise, como se o futuro pudesse ser não ter futuro. Pedro Mota Soares, enquanto persegue os trabalhadores a falsos recibos verdes, tenta distrair-nos com um Plano de Emergência Social que, além dos pressupostos errados e que perpetuam a pobreza e subalternizam os instrumentos colectivos para garantir a igualdade – como explica, grande parte, Bruto da Costa -, está longe de sequer servir para emendar o plano de agressão promovido pelo Governo de que faz parte.
Notícia na TSF (com audio)
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