Cavaco fala sobre a condição financeira… o país fica pra depois
As tvs disseram que a situação era histórica e nunca vista: o Presidente da República iria fazer declarações no final do Conselho de Estado (ver notícia aqui).
Cavaco fez, de facto, um discurso pequeno onde voltou a fazer as suas recomendações para que os partidos se entendessem na viabilização do Orçamento de Estado. Cavaco falou sobre “superior interesse nacional”, sobre “uma situação financeira muito grave” e sobre o “grave desequilibro das contas externas”. Cavaco disse apenas uma vez a palavra desemprego, mas sobre a crise social e sobre a precariedade nada se ouviu.
Cavaco, aliás, repetiu no seu discurso a ameaça que os banqueiros têm feito ao país que trabalha e que tem de pagar créditos: se não houver orçamento o financiamento será cortado. Cavaco reforça a chantagem inaceitável dos bancos portugueses. Os bancos financiam-se a 1% de juros junto do Banco Central Europeu, usando garantias do Estado Português, e depois cobram juros de 6% ao Estado Português, ganham milhões com essa manobra e ainda dizem que se o Orçamento não for buscar a factura da crise às pessoas, eles fecham a torneira.
Este Orçamento vai cortar rendimento aos funcionários públicos, vai aumentar brutalmente os impostos e vai provocar um aumento do desemprego. E mesmo a nova versão cozinhada pelo PS e PSD vai continuar esse caminho errado.
Mas a isso Cavaco responde com o silêncio.
Os desempregados, os precários, os que empobrecem a trabalhar, os que estão a perder rendimento, os que ouvem os patrões a exigir que em troca do aumento do IVA possam praticamente deixar de pagar Segurança Social, os que sabem que os bancos que causaram esta crise não estão a contribuir para a sua solução, esperavam que o Presidente da República falasse dos seus problemas.
Se o Conselho de Estado reúne e não fala sobre os que estão realmente a ser afectados pela crise, é porque o Conselho de Estado e o Presidente da República não servem a ninguém.