Greve Geral 24Nov: uma mobilização que ultrapassou a inevitabilidade e enfrentou o regime da austeridade

A Greve Geral do passado dia 24 de Novembro foi um enorme grito colectivo, um momento grande de mobilização dos trabalhadores e do conjunto da população. Foi abalado o guião que nos apresenta um povo que acata o massacre que lhe está a ser imposto. Foi uma greve feita em cada local de trabalho, enfrentando as pressões, as chantagens, a desmoralização e o medo. E foi também uma expressão viva, nas empresas e na rua, de que as vítimas do regime da austeridade não aceitam um futuro sem perspectiva nem alternativas. 
À força da greve, que teve uma forte adesão, juntou-se a presença na rua de muitos milhares de pessoas: em todo o país, esta greve foi também um protesto nas praças e nas avenidas, que juntou trabalhadores, mais ou menos precários, desempregados, reformados, estudantes e toda a população. Perderam os que tentaram condicionar, os que só falam em “direito ao trabalho” nos dias de greve e os que a quiseram desvalorizar, repetindo à exaustão que não mudaria nada e que não existe outro caminho possível que não seja a austeridade.

Será mesmo verdade que a greve não muda nada? Depois da Greve Geral, ficará simplesmente tudo na mesma?
Depois da grande experiência colectiva do passado dia 24, estas são perguntas importantes e às quais devemos responder. Os poderosos investem tudo na ideia de que as greves, como todas as mobilizações, por mais gente que envolvam, nunca servem para nada. Sabem que para impor uma vida colectiva baseada numa austeridade implacável com a maioria da população é preciso descaracterizar a democracia. Tudo é supostamente inevitável, devemos convencer-nos de que não temos alternativas; as mobilizações sucedem-se, mas explicam-nos que são apenas o simpático exercício de um direito e que não têm consequências. Querem impingir-nos uma versão da democracia em que o trabalho é desvalorizado, são destruídos direitos e a expressão da vontade colectiva é condicionada. Com o garrote autoritário, querem levar-nos os serviços públicos, a Segurança Social, o salário e o horário de trabalho ou o controlo público dos bens essenciais: tudo isto são elementos constituintes da democracia e que agora estão a ser roubados por uma política ilegítima e aventureira.
A Greve Geral do passado dia 24 de Novembro combateu o regime da austeridade e juntou todas as razões. É por isso que ela já mudou o curso dos acontecimentos e não ficará simplesmente tudo na mesma. Mesmo que tenha sido aprovado um Orçamento de Estado para 2012 que é um assalto e uma forte regressão, mesmo que já nos ameacem com mais austeridade, a grande mobilização da greve e a sua força pública provaram que a ideia da inevitabilidade já não é hegemónica. Precisávamos desta experiência colectiva para avançar. Não foi um momento definitivo, porque este combate é longo. Mas foi um dia de viragem e que nos dá confiança e prova a força que temos.
Quando os poderosos nos dizem que “é preciso trabalho e não greves”, nós respondemos que lutamos para defender o trabalho e os direitos que nos estão a roubar. Quando tentam criminalizar a mobilização e dividir o movimento, nós dizemos que só juntos e a lutar – sindicatos, movimentos sociais e toda a população -, poderemos garantir o nosso futuro. Sabemos que 2012 será um ano muito difícil, com mais pobreza, mais desemprego e mais precariedade. Mas será também um ano de lutas, nas quais teremos de encontrar as soluções colectivas que nos tirem da tirania da austeridade.
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