Lealdade na educação

Dezenas de docentes protestaram nas galerias da sala do Senado da Assembleia da República, já no final da audição do ministro da Educação, erguendo panos pretos onde se lia “professores em luta”. É uma resposta às medidas inconsequentes que têm sido propostas e uma amostra da força dos protestos que ainda estão para vir. José Ribeiro e Castro, presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, chamou-lhe “quebra de lealdade”.


Na realidade, tudo se resume a isso: quebra de lealdade. A única questão é o agente estar trocado, assim como as prioridades do senhor presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura e do próprio ministro da Educação. A quebra de lealdade é do Governo para com os professores, os pais e os alunos, a escola pública, o futuro e o desenvolvimento do país, certo?
Enquanto pedia repetidamente à PSP para expulsar os professores, José Ribeiro e Castro não se coibiu de adjectivar repetidamente o protesto como “uma quebra de lealdade verdadeiramente deplorável”, registando depois o caso na sua página do Facebook como “tesourinhos deprimentes”: a vergonha de quem não cumpre as regras da democracia e não sabe funcionar sem manipulação e sem encenação”. Ironia das ironias, o que dizer então deste Governo?


Ainda na mesma página, Ribeiro e Castro defende que a “audição com o ministro da Educação e a sua equipa decorreu bem”, não fosse o protesto, “única excepção potente [que] abafou tudo o resto”, e que fez relegar as explicações e informações do Ministério para segundo plano, “infelizmente desconhecidas para os mais interessados”, como se houvesse professor neste país que não siga o caso que lhe vai ditar o futuro. E que não esteja a lutar por ele.


Da audição, saiu a grande revelação de Nuno Crato, que disse querer professores contratados nos quadros com vínculos de mais de dez anos e que durante esse período tenham estado contratados pelo menos seis meses por ano lectivo. Como? Ninguém sabe. Quantos? Também não. A fazer o quê, sendo que as turmas vão diminuir drasticamente com o aumento de números de alunos por cada turma? Uma incógnita.


Continua também por divulgar oficialmente o número de docentes que ficarão com horário-zero – apesar das repetidas perguntas da oposição ao ministro e secretários de Estado – e que, segundo a Fenprof inclui um terçodos professores no quadro e acaba com 25 mil horários. Assim como a quantidade de professores que irá engrossar a fileira de desempregados do país. É que, segundo os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional relativos a Junho , houve um aumento de 151% de desemprego na profissão.


O anúncio de medidas escandalosas sucede-se, como o de ter dinheiro, afinal, para gastar na tentativa de “corromper” professores pagando cem euros para vigiar – perdão, avaliar – os seus colegas.


Nuno Crato já levou à rua 25.000 professores a 12 de Junho. Somam-se os mais variados protestos e vigílias pelo país com a promessa de serem radicalizados caso não se recue nesta política de des-educação.


Estas medidas não afectam só os professores. Afectam os alunos, os pais e colocam em causa a escola pública, a educação, a cultura e a formação. São milhares de pessoas:  os professores colocados nas escolas e os outros que ficarão “na prateleira”, sem esquecer os inúmeros que vão ficar desempregados; os  alunos integrados em turmas enormes, onde a única certeza é que nunca terão o acompanhamento devido, sem apoio, presos a uma falta de pedagogia tal que se dá ao luxo de achar que o desenvolvimento criativo no meio escolar é secundário, fazendo desaparecer as expressões plásticas. É que o tal ministro que deve toda a sua lealdade ao país, à educação das crianças e ao seu saudável desenvolvimento, é competente ao ponto de cometer a barbaridade de dizer que não é “possível desenvolver o espírito criativo de uma criança que não sabe ler…”

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