"Não vi excelência naquela Assembleia" :: Opinião

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Depois da polémica dos cortes no financiamento da Ciência, na quarta-feira dirigi-me até à Assembleia da República para assistir à discussão parlamentar da petição sobre o Concurso Individual de Bolsas de Doutoramento e Pós-doutoramento 2013 da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

A deputada Nilza de Sena (PSD) acha que não deveríamos estar a “fazer uma tempestade num copo de água” justificando que o que o governo fez foi apostar nos programas doutorais e nos projetos. Infelizmente não explicou que projetos foram esses em que se investiu, e também não explicou que, mesmo com os programas doutorais, os cortes são de 40% nas bolsas de doutoramento e 65% nas bolsas individuais de pós-doutoramento. Infelizmente, mais uma vez, também não explicou qual é a alternativa para os milhares de cientistas doutorados que ficaram desempregados. Pergunto-me se nos podemos incluir nos “desempregados”, já que simplesmente não temos direito a empregos e muito menos a subsídio de desemprego.

Mas, afinal de contas, o governo está apenas a “promover a excelência”. Contudo eu não vi excelência naquela Assembleia. Metade dos lugares vazios, deputados a conversarem, a levantarem-se, a mostrarem uma falta de respeito pelo que os colegas iam dizendo. Não, ali não havia excelência.

No inicio da sessão, o deputado Carlos Peixoto (PSD), disse que é necessário compreendermos o porquê da tão reduzida taxa de natalidade em Portugal nos dias de hoje.

Eu posso explicar: este país não é para velhos e muito menos para novos. Agora que me vejo obrigada a sair do país, e vejo as propostas de outros países que me permitem continuar a fazer ciência com um contrato – e ordenado atrativo que inclui subsidio por cada filho e outras regalias que quem foi bolseiro nem se lembra que existem – agora posso pensar em ter mais filhos. Mas não aqui neste país, talvez num país onde haja de facto excelência.

Isabel Peixeiro – Investigadora

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