OCDE: Quando uma palmadinha nas costas é um empurrão para o abismo
Angel Gurría, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), elogiou as reformas feitas pelos países intervencionados por programas de ajuda externa, qualificando-as como “superiores” àquelas efetuadas pelos países do norte da Europa. O elogio fez-se ouvir na abertura de um seminário sobre os desafios económicos na zona euro, que decorre em Bruxelas antes do início de uma reunião dos ministros das Finanças da zona euro, e que tem ainda a participação de Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo.
Os ministros das Finanças de Portugal, da Irlanda e do Estado Espanhol (respectivamente, Maria Luís Albuquerque, Michael Noonan e Luis de Guindos), ouviram atentamente o recado de Gurría, que afirmou que, apesar de aplaudir os esforços desses países, têm de continuar “comprometidos” com o roteiro de reformas estruturais.
A piscadela de olho de Angel Gurría implica uma coisa apenas: empurrar estes países para o abismo. O Parlamento Europeu, num relatório de Janeiro, em que analisa o impacto destas reformas tão “superiores”, avisou que a acção das intervenções feitas nestes mesmos países “merecem discussão”. Nas palavras de Hoang Nogc, o deputado que escreveu o relatório: “O FMI queria mais reformas das leis do trabalho, a Comissão Europeia uma consolidação orçamental rápida, fizeram-se as duas coisas, utilizaram-se os dois travões ao mesmo tempo” e “é por isso que não arranca o crescimento português e a dívida aumenta”, porque “mesmo que Portugal saia este ano do programa de ajustamento, o problema da dívida continuará porque as políticas de austeridade mataram o crescimento” (ler também aqui).
Angel Gurría diz aplaudir os esforços destes países, que já estão “a recuperar alguma competitividade”. A “competitividade” recuperada traduz-se, evidentemente, na destruição do estado social, na precarização e negação de direitos laborais a toda a população, e, como não poderia deixar de ser, no teórico e tão badalado “regresso aos mercados”. Lembramos que o mais recente ímpeto competitivo do governo se traduziu na colocação de mais três milhões de euros no mercado, a uma taxa de juro de 5,112% a 10 anos. Isso significa que para pagá-la, o país terá de crescer acima dos 5,1% nos próximos dez anos. Portugal não tem um crescimento de 5%, nem perto disso, há pelo menos 30 anos. Estas medidas, na realidade, agravam a dívida pública e significam apenas uma coisa: mais austeridade (ler mais).
Notícia aqui.
by