“A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos” dizia justamente Mia Couto.
Hoje o relatório Global Wealth Report, da seguradora Allianz, refere que Portugal está no top 20 dos países com mais riqueza financeira do mundo. A Suíça lidera o ranking dos activos financeiros per capita, onde estão mais 12 países da União Europeia, incluindo Portugal, em 19º lugar. Quando ouvimos todos os dias a verdade “absoluta” de que sem a troika não haveria dinheiro para pagar salários, a informação deste relatório é ela mesmo uma pergunta: e estes activos, não valem dinheiro?
Segundo o estudo, os activos financeiros do país cifram-se em 19 572 euros por pessoa, o que, caso fosse comparável a salários, significaria 1631€ por mês. Ora temos a tristeza de saber que o salário médio em Portugal é de 777 euros mensais e que a maioria absoluta da população portuguesa não possui activos financeiros. Sabemos também da grosseira disparidade entre a taxação sobre quem trabalha e sobre activos financeiros (fazendo até vista grossa aos paraísos fiscais). Sabemos ainda que os 20% mais ricos têm 610% dos rendimentos dos 20% mais pobres. E portanto temos um país onde a principal crise é a desigualdade. Como podemos dizer que o país está em crise e que não tem dinheiro quando é um dos 20 países do mundo com mais activos financeiros? Quando está à frente da Finlândia ou da Noruega? Não somos um país rico, mas somos, parece, um país de ricos. Com pelo menos 195 mil milhões de euros em activos financeiros (declarados).
Às afirmações sobre a necessidade da troika e de como ela veio trazer o dinheiro de que precisávamos, fica esta informação: como é possível pedir aos trabalhadores que abdiquem da sua riqueza quando há riqueza não taxada que vale mais que suficiente para que nem sequer precisássemos de qualquer empréstimo à partida? Se adicionarmos que a situação desde a intervenção externa só piorou em todos os sentidos, temos de perguntar-nos, seriamente: o que é que a troika veio cá fazer? quem é que ela está a servir? até quando vamos aturar isto?