Onde está o dinheiro?
Primeiro ouviram-se ecos duma polémica artificial entre o ministro Vieira da Silva e o deputado Paulo Portas. O líder do CDS garante que vai solicitar uma investigação a fundo sobre o funcionamento do Rendimento Social de Inserção (RSI), ou seja, quer convencer-nos que os pobres são uns calões que não querem trabalhar: “há um Portugal que trabalha no duro e há outro Portugal em idade de trabalhar que vive à conta do Estado. Há um Portugal que paga impostos e há outro Portugal que recebe o Rendimento Mínimo”. Um Portugal a duas velocidades que só Paulo Portas conhece, certamente pela sua experiência a comprar submarinos (com o nosso dinheiro), a dirigir um partido que está acusado de incontáveis ilegalidades (entre casinos e sobreiros) ou a guiar Jaguares à pala do “trabalho no duro” (numa mina de ouro chamada “Moderna”). Vieira da Silva reagiu para dizer o óbvio e reafirmar a importância evidente dum programa com estas características – um brinde de Portas, porque desvia a discussão do essencial: em tempos de “crise”, o Governo não enfrenta os problemas centrais e, portanto, não combate a pobreza, o desemprego e a precariedade. Ou seja, esta polémica serviu os dois: Portas insiste numa linha que vem garantindo a sua marginal sobrevivência na vida política nacional e Vieira da Silva tem a oportunidade de dizer coisas normais e aparentar combater a pobreza e a exclusão, porque, de facto, perto de Portas, Vieira da Silva até pode parecer um Robin Hood. Pelo caminho, fica sempre um debate sério sobre a triste quase inexistência do Estado Social em Portugal.
Já agora, coisas muito simples sobre o RSI podem ver-se neste post do blog Arrastão.
Ontem ficámos ainda a saber que, em 2007, os gestores públicos receberam 26,8 milhões de euros num universo de 77 empresas (notícias, por exemplo, aqui ou aqui), representando um aumento de 30% relativamente ao ano anterior. 27 milhões de euros, num só ano, para salários nas administrações de empresas públicas… Para lá do escândalo, falta dizer que em algumas destas empresas estas administrações impõem a “contenção salarial”, ou seja, o congelamento e redução de salários ou até ameaçam despedir. O Secretário de Estado do Tesouro e Finanças, perdendo a noção do ridículo, apressou-se a desmentir o aumento dos salários dos administradores, assegurando que “estes gastos diminuíram 1% entre 2006 e 2007” [aplausos]. O CDS, que não gosta de tostões para os pobres, provou o seu ecletismo e reagiu contra os milhões para os privilegiados – especialmente agora, que já não está no Governo… sim, porque enquanto lá andou, achava bem [já agora, há quanto tempo é que Celeste Cardona ainda era administradora da CGD?…].
É isto a “crise”: mais para quem tem mais, menos para quem tem menos. Não brinquem connosco. Sabemos bem onde está o dinheiro. E não é de certeza nos bolsos de precári@s, d@s trabalhadores/as em geral ou ainda menos se vai encontrar em quem sobrevive com os mínimos que a exclusão permite.
Tiago Gillot






