Passos Coelho, "é p'ra amanhã, bem podias fazer hoje, porque amanhã sei que voltas a adiar".

Em entrevista ao Correio da Manhã, o Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho, voltou a declarar toda a sua devoção a um liberalismo económico que deixa os seus cidadãos relegados para um segundo plano.

O importante é travar o crescimento da despesa a todo o custo, para isso pouco importam os níveis brutais de desemprego que vamos observando, pouco importa o desmoronamento da Segurança Social e pouco importa a destruição de laços familiares e pessoais que todos e todas deveriam poder manter.
Passos Coelho reafirma que o desemprego irá aumentar e parece não se preocupar com isso, prefere delegar a responsabilidade do crescimento económico nos privados, com a assunção ingénua de que eles canalizarão as suas mais-valias para a criação de emprego e para os salários dos seus trabalhadores. Afirmando que o Estado não tem competência para impor regras no sector privado, Passos Coelho esquece-se que partiram dele as ordens para que a meia hora de trabalho a mais seja uma realidade. Sendo certo que impôs o corte do 13º e 14º mês apenas à Administração Pública, não deixa nunca de enviar recados para que o mesmo seja aplicado no sector privado.

É ainda mais escandaloso que o governo insista em pedir aos seus cidadãos que emigrem. Já não é a primeira vez que um membro deste executivo o diz, mas agora a situação é ainda mais grave porque é o chefe desse mesmo executivo que afirma com todas as letras que não vai fazer nada para impedir esta necessidade de êxodo em massa.
Desta vez o recado caiu sobre os professores, que foram aconselhados pelo Primeiro Ministro a deixar as suas famílias e a procurarem trabalho nos PALOP’s, mostrando-se muito animado com uma possível extensão dos programas estabelecidos principalmente com o Estado angolano. Durante anos, milhares de pessoas optaram pela carreira docente porque o país precisou de universalizar a escola para vencer o atraso e o analfabetismo crónico de uma ditadura tacanha, agora, que o sistema de ensino tem cada vez mais professores qualificados, opta-se por dizer que o investimento de anos nesta profissão não valeu de nada e que a solução é pegar na mala de cartão e ir ensinar para outras bandas.
Em relação à Segurança Social anuncia que a sua previsão para daqui a cerca de 20 anos é que as reformas sejam metade das que vamos tendo nos dias que correm. A solução encontrada é mais uma vez a da demissão deste problema, é a liberalização total das contribuições para a Segurança Social em que o Estado deixará de exercer a sua obrigação de solidariedade entre gerações e entre os que mais ganham e os que menos ganham.
Quando a destruição das carreiras contributivas da maioria dos habitantes dos país está em marcha, a solução tem de passar por medidas que garantam que, dentro de 20 anos, o Estado não se responsabilize apenas pelas pensões de miséria a que a maioria de nós terá direito. Cabe a este e aos próximos governos salvaguardar a manutenção de uma Segurança Social justa e livre da especulação financeira.
Passos Coelho mostrou a face mais economicista e tecnocrata deste executivo sem qualquer pejo. Se é certo que há reformas que devem ser feitas no Estado português, também é certo que essas reformas devem ter como único objectivo a melhoria das condições de vida de quem habita no país. Neste momento estamos a voltar ao Portugal dos anos 60 em que a única coisa que ia mantendo pessoas fora da miséria era o apoio familiar e a saída para o estrangeiro e parece que Passos Coelho quer mesmo ser o Primeiro Ministro que ficará na História como o responsável por fazer regredir o seu país em meio século.
Como é possível que um governo que pretende atrair investimento privado dê aos cidadãos o sinal de que o melhor é abandonar o barco porque ele pode estar prestes a afundar? Como é possível que perante o fim anunciado (para a tão apetitosa privatização) de uma Segurança Social que vai distribuindo já, reformas baixas e pensões de miséria, a solução seja a sua descapitalização em proveito da banca? (A mesma banca que ajudou em grande parte ao colapso da nossa Economia).
Ao querer obedecer às directivas que a Chanceler Merkel quer impor a toda a União Europeia, Passos Coelho pretende mostrar o trabalho de casa de um aluno obediente e que faz tudo para dar graxa ao seu professor. Talvez esteja na hora de aprender alguma coisa com as pessoas que nos últimos meses se têm indignado por todo o Mundo contra este sistema e que exigem ser respeitadas pelos decisores políticos. Talvez esteja na hora de Passos Coelho deixar de fazer orelhas moucas à indignação que nos últimos meses ocupou as ruas de Portugal.
E se o Primeiro Ministro insiste em se demitir da sua função primordial de lutar por um país mais justo socialmente e em que as pessoas possam ter perspectivas de um futuro melhor, então talvez seja mesmo essa a opção que ele tem de tomar, a demissão.
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