Porque saio à rua no dia 15 de Setembro? :: Que se lixe a troika :: Joana Manuel

É simples. Saio porque um país não é um redil de gente em saldo, mas um conjunto de cidadãos, e a rua é o primeiro espaço da sua expressão. Saio porque um técnico de discurso vagaroso que disserta sonolento sobre inevitabilidades não consegue fazer-me esquecer que uma sociedade humana é uma coisa política e que todas as escolhas nela e para ela feitas são política. Saio porque a democracia é um organismo vivo que precisa de mim para reagir às estocadas violentas e sucessivas que tem recebido desta União Europeia e destes governos que estranhamente continuamos a eleger. Saio porque a democracia é muito mais que um boletim de voto e umas meras formalidades. Saio porque o serviço público de televisão, a água, a energia, a estrutura social solidária que tanto nos custou a construir, o serviço de saúde imperfeito e ainda assim exemplar que conseguimos, a educação pública com seriedade e qualidade, a liberdade de expressão, o direito ao trabalho, a justiça fiscal e social, são parte de mim-cidadã e precisam que também eu os defenda.

Saio porque sei que os países com mais “empreendedores” são precisamente Portugal, Espanha, Grécia, Itália, Irlanda, e eu não caio em contos da carochinha. Saio porque não preciso necessariamente de doutores nos cargos públicos, mas preciso de gente competente, honesta e inteligente, que me oiça e que governe para mim e comigo e não veja a coisa pública como um ponto privilegiado para o saque às populações. Saio porque sou anti-colonialista e o meu país está a ser tratado como um protectorado colonial, pronto a ser sugado e seco de gente e de vida. Saio porque um país não é o extracto bancário e os off-shores de meia-dúzia de famílias, mas as pessoas que lhe dão carne. Não carne para canhão, mas carne para viver e construir. Saio pela paz, pelo pão, pela habitação, a saúde e a educação. Saio porque não quero dizer aos meus filhos que foi pela minha inacção que eles não receberam um país para viver e respirar. Saio por mim. Porque não serei cúmplice desta destruição diária de vidas em nome da ganância, da falta de democracia do processo europeu, da ideologia de retrocesso e exploração que passa por ciência exacta e dogma ideológico. Saio porque a economia é política e uma economia que não serve os cidadãos não serve para nada. Saio porque quero fazer a minha parte. E a minha parte começa na rua.

Joana Manuel, actriz
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