Quando a crise se combate com mais precariedade

Para quem ainda tinha algumas dúvidas sobre quem dirige o país do ponto de vista da legislação e do trabalho, a partir do dia anterior ao 1º de Maio essas dúvidas terão se dissipado.

Pouca gente não reconhecerá que Sócrates tem uma máquina de propaganda fantástica e que a imagem que passa, muito mais do que o conteúdo, é afinada ao pormenor para que os dividendos eleitorais se façam sentir. A imagem é tudo, a frase certa é o fundamental.

Com as mudanças no Código do Trabalho, Sócrates e Vieira da Silva procuraram capitalizar simpatias através de uma suposta luta contra a precariedade. Nós dissemos exactamente o contrário. As mudanças propostas eram rebuçados e nada mudariam no panorama do trabalho precário generalizado em Portugal. Bem pelo contrário, algumas delas, iriam até alargar a abrangência da precariedade, e pior, introduzindo factores contraditórios de legalidade/ilegalidade como os 5% pagos pelas empresas que contratam a recibo verde.

Pois bem. Duas das bandeiras de Sócrates, o agravamento (em 3%) da taxa social única para os contratos a prazo, e a baixa (em 1%) da taxa social única para os contratos sem termo (efectivos), não vão entrar em vigor e vão ser adiadas, pelo menos, até 2011. Os famosos 5% que as empresas que contratam a recibo verde vão pagar, também vão ser adiados, com entrada faseada, prevista, para 2010. Em boa altura o Mayday Lisboa disse que “5% de contribuição até fazia rir o patrão”.

Apesar de Sócrates saber que essas são peças fundamentais da camuflagem do Código de Trabalho venenoso que aprovou, foi obrigado a voltar a trás e a dar o dito pelo não dito.

E se Vieira da Silva diz que “em Portugal é fácil despedir, senão não haveria tanto desemprego“, ao mesmo tempo, assume que não só avançam com o facilitar dos despedimentos e a não integração dos trabalhadores nas empresas – mesmo quando são injustamente despedidos e isso se prova judicialmente – mas também assumem toda a sua incoerência e cinismo no tratamento de quem trabalha.

Para eles, o mundo do trabalho em Portugal é mais profícuo quando as empresas não pagam os impostos que devem, pagam baixos salários, abusam da precariedade das pessoas, contratam a recibo verde num autêntico mercado paralelo que prejudica essencialmente as pessoas que vivem do seu trabalho ao mesmo tempo que roubam estado.

Para Sócrates e Vieira da Silva, a crise combate-se com mais precariedade. Mas como foi dito no Mayday Lisboa 2009, NÓS NÃO PAGAMOS A CRISE DELES.

O PRECARIADO DÁ LUTA!

rUImAIA
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