Um testemenho sobre as consequências dos recibos verdes
Divulgamos este testemunho brutal, via FERVE. Ele demonstra tristemente as consequências da irresponsabilidade que permite que os recibos verdes e as outras formas de impor a precariedade sejam a regra das relações laborais. O que dizer disto, senhor ministro Vieira da Silva? Quem apoia na doença esta trabalhadora, senhor primeiro-ministro José Sócrates? Onde estás tu, Autoridade para as Condições do Trabalho?
“Arquitecta há mais de dez anos (a recibos verdes claro) num atelier internacionalmente reconhecido, deparo-me agora com uma situação que nunca passei atravessar: um cancro de mama.
Sempre descontei para a segurança social (do meu bolso claro) e esta oferece-me agora uma “baixa” ridícula: posso ficar em casa até 12 meses, sem pagar a prestação à Segurança Social e sem direito a qualquer tipo de remuneração.
Deve-se ter em conta que um tratamento oncológico deste tipo demora cerca de um ano e meio… e a pseudo-baixa é de um ano!
No entanto, se trabalhasse por conta de outrem a mesma baixa poderia alongar-se até três anos. Deduzo então que o Estado parte do princípio que os profissionais liberais (forçados ou não) têm mais saúde e podem alegremente trabalhar entre quimioterapias e nos pós-operatórios.
Vivo neste momento da caridade. Da família e da entidade patronal, apesar das suas ameaças de despedimento. Para que não seja despedida tenho ido trabalhar quando na verdade só me apetece ficar em casa a descansar e a enjoar…
Para além do processo de cura ser doloroso, passo os dias a pensar que não escolhi ter um cancro mas alguém escolheu não me fazer a m**da de um contrato de trabalho e, mais uma vez, não posso contar com o Estado.
Acrescento ainda que tenho um bebé.
Vou iniciar uma acção jurídica contra a “entidade patronal” pois acredito que todo o dinheiro que me devem será o meu meio de subsistência nos próximos tempos.“
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