A amnésia do Sr. Silva
Tem sido noticiado nos últimos dias a extrema preocupação com que Cavaco Silva, o candidato, não o Presidente, encara os graves cortes na função pública. Não sendo necessário aqui prendermo-nos muito com a injustiça dos cortes programados para a função pública, classe profissional constantemente nas fileiras dianteiras do ataque aos direitos sociais, podemos, e devemos, ocupar-nos com as referidas declarações do agora candidato.
Apela-nos Cavaco Silva, candidato, ao “respeito e à valorização dos professores” e alerta-nos para “alguma injustiça” nos cortes da função pública, defendendo que os cortes salariais se deveriam fazer sentir também no sector privado, referindo-se aos “largos milhares de portugueses” que “não foram chamados” a participar nesses cortes, leia-se o sector privado.
Concordando que, de facto, os cortes salariais na função pública são injustos, de resto como qualquer ataque aos direitos sociais será sempre injusto, considero interessante analisar duas questões.
Desde logo, o ataque aos trabalhadores do sector privado que, como qualquer outro/a trabalhador/a português verá o seu salário reduzido, quer por via do IRS, quer por via do novo Código Contributivo. A este respeito, uma injustiça não se apaga com o apelo a uma outra injustiça. Por outro lado, e este sim, é um dado bem mais interessante, encontram-se as declarações de Cavaco Silva, enquanto opinion maker e reputado economista, numa conferência realizada na Faculdade de Economia do Porto em 2002. Como a memoria é curta, mas não é diluída na amálgama de informação constante, convém recordar qual o teor dessas declarações. Dizia então, o agora candidato Cavaco Silva, relativamente à redução do número de funcionários públicos o seguinte: “Como nos vamos livrar deles? Reformá-los não resolve, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e diminui as receitas do IRS. Só resta esperar que acabem por morrer”, afirmava então.
Tais declarações poderiam ser facilmente esquecidas nos anéis do tempo, vastos e sempre mutáveis, contudo merecem alguma preocupação. Desde logo, pelo ataque frontal à função pública, agora escamuteado entre ataques aos trabalhadores privados e, aqui talvez um pequeno fait divers, não me fazerem muito sentido tendo em conta que Cavaco Silva ocupa ainda um cargo de funcionalismo público, estando a disputar eleições para manter esse mesmo cargo.
Se a memoria é curta, é. Se se esquece, não, de todo, Sr. Silva.
André Pires







Gostava de saber quantos dos Precários Inflexíveis a recibo verde estão a pensar votar no SR. silva.
É que foi um governo do Sr. Silva, e, por conseguinte, o Sr. Silva, quem inventou os recibos verdes.
Não se esqueçam portanto de votar no SR. Silva, para lhe agradecer.