A super-crise do regime da troika

Há muito que a crise financeira se tornou a crise das dívidas soberanas. Com a chegada da troika acelerou a recomposição política que pretende que quer que não existam quaisquer alternativas à política de austeridade. E assim a crise das dívidas soberanas saltou para uma crise política sem precedentes nas últimas décadas. Ontem pudemos assistir a mais desenvolvimentos: Passos e Portas dizem que há partidos anti-democráticos no Parlamento enquanto Cavaco diz para estarmos “alerta” por causa dos “inimigos da salvação nacional”. A crise está longe de encerrada mas uma coisa é certa: nada ficará como dantes.

cavaco portas passos

Enquanto encerrava a Moção de Censura novamente votada favoravelmente por toda a oposição PEV-PCP-BE-PS, Paulo tentava transformar a política numa questão aritmética e concluía que a rejeição de uma moção de censura é uma moção de confiança e que, portanto, menos com menos dá mais, para pressionar Cavaco Silva que não aceitou a remodelação governamental. Arrematava o discurso dizendo que há partidos democráticos e partidos não-democráticos na Assembleia e que, claro, os partidos que defendem o memorando da troika e a austeridade são os democráticos. Entretanto, enquanto anilhava cagarros nas ilhas Selvagens, Cavaco Silva confirmava a escalada na linguagem e dava até um passo em frente, tornando-a bélica e acusando quem se opõe ao acordo de “salvação nacional” e portanto ao memorando da troika de ser um “inimigo” disposto a tudo para que o acordo falhe. Passos Coelho, perante a incerteza disseminada, fez um discurso de improviso no Conselho Nacional da noite, já apontado também a Cavaco Silva, e alertando para o perigo das eleições.

Esta ascensão na super-crise política do regime dá sinais de que o acordo não está fechado e que fechá-lo terá pesados custos, em particular para o PS, que tenta a todo o custo ter um pé dentro e um pé fora, o que lhe está também a custar caro perante todas as contradições internas. E se as pressões internas para não assinar o acordo são poderosas, cá por fora, as declarações de Cavaco, Portas e Passos juntaram-se aos apelos internacionais e ao manifesto dos milionários que ontem dizia que é preciso mais austeridade e que portanto que PS tem que se entender com o governo. De fora, da troika, certamente virão mais pressões, mas a incerteza ainda reina quanto ao desfecho. Qualquer que este seja, a religitimação deste governo é uma tarefa além das possibilidades reais e nem toda a retórica do mundo poderá reclamar que este governo sai mais forte desta super-crise. Outro sinal que vem destas semanas é que Cavaco não atenderá à situação política e que a maioria no Parlamento é uma maioria disciplinada e cega à realidade social e política. Cada vez mais fica claro que é apenas a luta popular e a contestação de rua que darão os contributos decisivos para derrubar os governos da troika.

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