Análise | Precários e Desempregados já compõe mais de metade de toda a população activa

Tal como divulgámos no passado sábado, no primeiro trimestre de 2012 o somatório de trabalhadoras e trabalhadores precários e desempregados ultrapassou a metade da força de trabalho (população activa) do país. Uma realidade que põe a descoberto a entrada num novo paradigma, para o qual a Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, vem há muito alertando: o objectivo de todas as alterações legislativas e económicas em relação ao campo do Trabalho é recuar largas décadas nos avanços sociais e embaratecer a mão-de-obra, transformando toda a gente que trabalha em precários e precárias, e os restantes em desempregados, à espera por uma hipótese de serem explorados por salários de miséria e condições sociais primitivas. Se ainda agora ultrapassámos (oficialmente) os 50%, o objectivo é a curto prazo chegarmos perto dos 100%.

O somatório de desempregados “oficiais”, recibos verdes, contratados a prazo, trabalhadores a part-time (não todos), pessoas em situação de subemprego, outros contratados e inactivos disponíveis já compõe a maior fatia da população activa em Portugal, isto é, em cada 2 trabalhadores, 1 é precário ou está desempregado. A situação vem em crescendo em todo o período de análise, não havendo qualquer antagonismo entre desemprego e precariedade, que acompanham-se na sua espiral ascendente. Portanto, desemprego e precariedade não são inversamente proporcionais – dão directamente proporcionais e reforçam-se mutuamente, como vínhamos há muito afirmando.

Como se pode observar no gráfico acima, os números de trabalhadores desempregados e de trabalhadores precários descrevem curvas muito próximas, disparando a partir de 2011 os números de desemprego. Desde então o desemprego continua a crescer e mesmo com a destruição das protecções laborais impostas pelo memorando da troika perdeu-se muito emprego precário, desmistificando a ideia de que, sendo mais fácil despedir, é mais fácil contratar. A subida do número de trabalhadores precários (especialmente subempregados e part-times) no 2º trimestre de 2012 não levou a uma descida no desemprego (que, pelo contrário, subiu), provando que houve de facto uma transferência directa de trabalho com vínculos mais estáveis para vínculos mais precários. No 3º trimestre já há (oficialmente) 2 928 000 trabalhadores e trabalhadoras precárias e desempregadas em Portugal, constituindo 52,98% de toda a população activa em Portugal, que são 5 526 300 pessoas.

Amanhã apresentaremos a nossa última análise desta série, sobre a questão de género as principais tendências no trabalho feminino, historicamente sobre-explorado ainda além do masculino, e precarizado de forma recorrente.

Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather