Testemunho | "Pagamento? Horário? Estamos aqui a dar-te uma hipótese para decidir SE TU mereces."

Candidatei-me a um emprego na empresa Globalmeeting e fui a três entrevistas, em três dias distintos, e vou-vos contar o que me aconteceu.
Comecei por responder por email a um anúncio, que estava num site bem conhecido, que pedia por distribuidores. Responderam-me para marcar a primeira entrevista de selecção.
A primeira entrevista, teve lugar na Ameixoeira e o entrevistador parecia ser de confiança. Estava lá muita gente à espera, havia cerca de 40 pessoas para serem entrevistadas e foi-me dito que dessas iriam seleccionar 5. Foi-me dito que o trabalho seria de atendimento ao cliente na área de atendimento ao cliente e energia. Nessa mesma tarde fui novamente contactada por telefone e informada que tinha avançado no processo de selecção e me deveria apresentar no dia seguinte no mesmo local.
No segundo encontro cheguei 10 minutos mais cedo e entrei com o entrevistador do dia anterior que encontrei à chegada à porta (estava fechada). Estava à conversa com ele e pouco depois chegou o gerente que viria a conhecer melhor no dia seguinte. Apesar de não me terem informado previamente, neste segundo encontro já deveria ter sido para começar o trabalho, acompanhando, pelo que percebi, o gerente, mas quando me viram disseram-me que devia estar vestida a preceito e fizeram o “sacrifício” de me dar mais uma oportunidade e deveria apresentar-me no escritório da empresa no dia seguinte. Visto que o meu Português não era suficiente para o ramo de atendimento ao cliente e energia, ficaria encarregue de vender perfumes e material de escritório.
Chegamos, então, finalmente, ao terceiro encontro que teve lugar pelas 9h na Amadora, junto à linha de Sintra. Até este momento, nunca me tinham informado sobre o horário nem o salário do trabalho, e nunca me deram nenhum contrato para assinar.
O gerente, depois de poucos minutos de conversa, disse-me:
– Estamos a dar-TE uma oportunidade, eu não preciso de um emprego, TU precisas! Por isso tens de fazer um esforço.
e acrescentou inúmeras vezes que tinha de fazer um esforço. Cheguei agora a Portugal e já estou a fazer um esforço imenso para aprender a língua, pensei eu.
O gerente esteve a explicar-me como decorreria o contacto com os clientes e fiquei com a impressão de que só iria vender perfumes porta a porta. Tinha de seguir uma ladainha: “Olá, chamo-me Gertrudes e estou aqui hoje com esta OFERTA MAGNÍFICA! Olhe, veja isto (e aí entregava uma calculadora à cliente). Cheire isto! (dava um papel perfumado) Na loja, custa €40, mas eu vendo-lhe por €10, quer?”. Disse-me para repetir a frase depois dele umas quantas vezes. Senti-me muito pouco à vontade visto que algures a meio da conversa tinha entrado no gabinete uma senhora de roupas casuais que parecia muito cansada. O gestor referiu-se a ela como colega.
Às tantas, ele diz-me:
– Não podes perguntar aos clientes a todo a hora “O quê? Importa-se de repetir?”, tu não falas português!
e acrescentou que me iam dar uma oportunidade.
Pela porta aberta do gabinete entra um colega jovem e o gerente disse-me que visse bem, ouvisse e prestasse atenção, que eu ia trabalhar todo o dia com ele e depois decidiriam se eu valia a pena… Estava prestes a mandar-me sair com o colega quando eu lhe pedi que me desse detalhes sobre o trabalho. Ele perguntou-me que tipo de detalhes queria saber. Pedi-lhe que me explicasse qual era o horário e o salário, como é que o sistema funcionava exactamente. Ele ficou surpreendido, pela negativa, fez uma expressão interrogativa e perguntou-me do que estava eu a falar, e que havia uma coisa que eu não estava a perceber. Nesse momento olhei de relance para a senhora olhou para mim com um ar muito preocupado, quase receoso. Eu tentei explicar-lhe que estaria fora todo o dia a vender os produtos, e que o tempo é valioso, mas ele interrompeu-me, bastante zangado:
– Que pagamento?! Que horário?! Estamos aqui porque te decidimos dar uma hipótese e decidir SE tu mereces.
Tentei falar de novo, mas ele indicou-me que me levantasse, apertou-me a mão, disse que eu era muito simpática e que me desejava a melhor das sortes, e mostrou-me a porta da rua.
Quando aceitei ir a estas entrevistas já estava a par de que isto podia ser um barrete, porque li o post do PI sobre a Axes Market, e agradeço às outras testemunhas, mesmo assim, não é fácil superar a irritação e frustração.
Imagem: Dalaiama Street Art (dalaiama.blogspot.com







Fui contactado por uma pessoa que falou que era só contratos na área de energia nem falou onde era nem o que era basicamente. Vi logo que era barrete, ne, lá pus os pés… Nem identificam-se.