Bibliocracia – A ditadura das publicações

Os investigadores são motivados pela procura de conhecimento, pelo entusiasmo de encontrar respostas. Hoje em dia a pressão da produtividade e a tendência das universidades e institutos avaliarem os cientistas pelo número de artigos científicos e pelo seu factor de impacto, faz com que a investigação seja desviada para atingir mais publicações mais citadas e com maior factor de impacto em vez de prosseguir a investigação com pensamento crítico ou sobre assuntos que não sejam considerandos “quentes”. É também esta ilusão de uma competição desenfreada que está na origem de um aumento exponencial dos casos de plágio e falsificação de resultados desde 2001 (artigo da Nature aqui)
Vários cientistas com carreiras consolidadas têm vindo a denunciar e a tomar uma posição contra esta “tirania” das publicações fazendo duras críticas aos jornais de alto factor de impacto.
Esta semana Randy Schekman, Nobel da Medicina 2013, afirmou que o seu laboratório declarou um boicote à publicação de artigos nas principais revistas científicas (como a Nature, Science ou Cell) dizendo que estas têm uma grande responsabilidade na distorção do processo científico, já que um artigo pode ter muitas citações por ser bom, mas também por ser polémico, estar na moda ou simplesmente por estar errado (artigo do The Guardian aqui)
Dias antes Peter Higgs, Nobel da Física 2013, disse acreditar que se concorresse actualmente a uma posição numa faculdade, nunca olhariam para o seu currículo seriamente porque actualmente espera-se que um investigador entre em todas colaborações possíveis e não pare de produzir artigos. Desde 1964, quando publicou o trabalho que este ano lhe deu o prémio Nobel, publicou menos de dez artigos científicos (artigo do The Guardian aqui)
É preciso repensar a avaliação para financiamento de projectos, para posições em institutos e faculdades e para a progressão na carreira, bem como garantir a partilha dos resultados recolhidos. É importante que a avaliação do trabalho científico seja feita com base na qualidade da ciência e não no jornal onde foi publicado ou das citações que teve. Estamos a observar os novos tempos em que a bibliocracia é posta em causa e por pesos pesados da investigação. Novas alternativas começam a surgir e o contributo de todos neste debate é essencial.
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“É difícil imaginar como hoje em dia eu poderia ter um ambiente com paz e sossego suficientes para fazer o que fiz em 1964”
Higgs 2013






