Comunicado de imprensa dos Precários-Inflexíveis 27/04/09

Ouvi agora senhores uma história de pasmar. Há em Portugal uma autarquia original, que decidiu custear o aumento de espaço físico de uma empresa de sucesso – a ES Contac Center, do grupo Espírito Santo. Qual será o sucesso da dita empresa, perguntais? É na casa dos milhões de euros de volume de negócios, à custa da exploração de precários: 12,8 milhões de euros em 2007.

Mas a chantagem da crise parece que rende a alguns. É que como passou a ser do conhecimento público na semana passada – apesar de se dizer uma “empresa em crescimento” – a ES Contact Center irá gozar de um investimento de 700 mil euros da câmara municipal das Caldas da Rainha.

Segundo uma notícia recente do DN, a ES Contact Center mencionou epistolarmente a possibilidade de procurar outras paragens caso a autarquia recusasse embarcar nesta ajuda. Importa aqui referir que o administrador delegado da ES Contact Center é Pedro Champalimaud, presidente da Associação Portuguesa de Contact Centers (APCC), pelo que a ameaça de deslocalização assume uma gravidade acrescida.

Mas está tudo bem, a ameaça não se concretizará. Afinal, a mesma ES Contact Center que agora vem pedir patrocínio aos contribuintes das Caldas da Rainha e de todo o país foi considerada há um ano a empresa do ano em 2007, recebendo um prémio da própria Câmara Municipal das Caldas da Rainha. E Pedro Champalimaud recebeu do sector o prémio individualidade do ano em Dezembro, pelo seu trabalho à frente da ES Contact Center e da APCC. Por isso, há que mantê-los nas Caldas da Rainha a todo custo, não é? Terá sido o que pensou o Presidente da autarquia, Fernando Costa (PSD), que fez aprovar o negócio há dias em assembleia municipal. Argumenta o Presidente que estes 700 mil euros representam a garantia de mais “300 a 350 postos de trabalho” no concelho e “150 mil euros de ordenados por mês”.

Ora, é só fazer as contas:

150 mil euros a dividir por 350 “postos de trabalho” dá 428 euros. E 150 mil euros a dividir por 300 “postos de trabalho” dá 500 euros. Mas estaremos a falar de “postos de trabalho” à séria? Ou será que os novos postos de trabalho que a ES Contact Center obrigou os contribuintes a custear serão para pessoas que trabalharão de forma precária? A estes 428/500 euros ainda será necessário descontar Segurança Social?

Trata-se portanto de “postos de trabalho” que na melhor das hipóteses rondam o salário mínimo e que a autarquia das Caldas da Rainha compra a um preço entre os 2000 e os 2333 euros a cabeça, conforme se tratem afinal de 300 ou 350 postos de trabalho. Se a moda pega…

Nesta história de pasmar entra então a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, a quem ficaria bem perguntar se repudia esta prática no mínimo estranha da autarquia das Caldas da Rainha.

E ficaria também bem perguntar aos responsáveis da RTP, do Turismo de Portugal, do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana e do Instituto Português da Juventude – todos clientes ilustres da ES Contact Center – se estão dispostos a assumir uma posição clara contra esta extorsão de dinheiro dos contribuintes e acima de tudo contra a precariedade e exploração dos trabalhadores do call center.

Ficamos à espera das perguntas e sobretudo das respostas.

Precários Inflexíveis

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