Comunicado de imprensa dos Precários-Inflexíveis
Lisboa, 19 de Fevereiro de 2009
Há uma semana que se vão ouvindo vozes bafientas pregando a ideia de que mais vale ser pobrezinho e miserável trabalhando, do que estar desempregado e não aparecer nas estatísticas. Além dos inevitáveis Sócrates, Vieira da Silva e do seu patrão-defensor-de-serviço Francisco Van Zeller, entre os insuspeitos defensores da ideia estiveram Pacheco Pereira, Jorge Sampaio ou João Proença. “É melhor ser precário do que desempregado”, defende-se na frase-slogan desta gente instalada. Assim se traduz a chantagem com que querem amarrar as nossas vidas.
Preparado o caminho, chegou a notícia. Ou antes a notícia preventiva. Aquilo que ouvimos hoje não é ainda supostamente um anúncio, apesar de todo o ruído: “o Governo coloca a hipótese de vir a pensar na eventual suspensão…”. Percebemos o embaraço. A propaganda de Sócrates é feita a la carte, quando dá mais jeito, e sempre com a permissão dos patrões.
O aumento de 3% da Taxa Social Única para os contratos a termo e a redução em 1% nos contratos sem termo foram agitadas – juntamente com outras medidas – como uma atitude de suposta coragem deste Governo, determinante no combate à precariedade. “Nunca ninguém foi tão longe”, dizia Sócrates na altura. “Nunca ninguém foi tão longe” diria também Francisco Van Zeller na altura, deixando escapar que Sócrates era um gajo porreiro. Na altura, Van Zeller até dizia que Vieira da Silva fizera aquilo que os governos de direita não tinham conseguido fazer.
Se as medidas “exemplares” de combate à precariedade vão ser adiadas, pelos vistos o Governo só poderá assumir que deixou de lado o combate à precariedade. Ou então, aquelas medidas eram apenas um rebuçado e por isso não faz mal que fiquem de lado. De facto, a precariedade e o roubo já entraram em vigor neste Código Sócrates. E o adiamento desta medida propagandística pouco ou nada vai significar. O Estado mantém-se como um dos maiores abusadores da mão-de-obra precária, e os patrões põem Sócrates e Vieira da Silva num chinelo sempre que lhes apetece e sempre que vêem alguma perspectiva de lucro numa qualquer crise.
Os Precários-Inflexíveis tinham razão quando chamaram rebuçados às ofertas envenenadas desta revisão do Código do Trabalho. Dizíamos e continuamos a dizer que a precariedade foi legitimada com o código Sócrates.
As novas leis são mesmo uma declaração de guerra a todos os que trabalham. Faltam agora várias batalhas. Para nós, a alternativa à precariedade é a luta. Estamos a construí-la e queremos fazê-la junto a todos e todas as que se opuserem ao Código Sócrates. Precisamos duma alternativa que o destrua.
sinceramente cada vez vejo o futuro mais nego…pés e mãos atados.
será que sou caso único ou a maioria?! será que se todos os que estão como eu exigirmos respostas as vamos ter como as entidades patronais?…
e é assim a vida de uma jovem entre o será e as interrogações e com o excelente conhecimento do verbo adiar
Para quando paramos de nos queixar e deixamos de permitir sermos tratados como excluídos? Como se tivessemos uma doença contagiosa em que todos negam a nossa existência? Quando vamos deixar de permitir esta situação? Vamos estar inertes á espera que algo mude, que um milagroso político abra os olhos e faça algo? Isso nunca vai acontecer e vamos ser vitimas e coitadinhos a vida toda.
Os nossos pais foram para a rua no dia 25 de abril de 1974.
E nós? Onde está a nossa coragem e força? A nossa atitude?
Eu sou uma precária, desde sempre, tenho a vida adiada e essas características todas que estamos cansados de apregoar para toda a gente ouvir mas só tenho esta vida e quero saboreá-la e não consigo ficar inerte num país de brandos costumes e lamentos.
É preciso agir, reagir, mostra que temos voz, fazer ruído. Somos muitos, muitos e todos na rua organizados conseguimos dizer “nós existimos”. O lamento não vai mudar nada. A acção sim. Deviamos unir-nos em massa.